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Tragédia em Mar Grande é a maior da Bahia na última década 

Foram 19 mortos e mais de 80 feridos no naufrágio da lancha Cavalo Marinho I

Retrospectiva 2017|Matheus Pastori, do R7*

Registro da tentativa de socorro ao pequeno David virou símbolo do acidente
Registro da tentativa de socorro ao pequeno David virou símbolo do acidente Registro da tentativa de socorro ao pequeno David virou símbolo do acidente

Era para ser apenas mais uma travessia de costume entre o Continente e a Ilha de Itaparica. Mas, em 24 de agosto deste ano, o tradicional trajeto feito por soteropolitanos e turistas se tornaria o caminho do mais trágico dos acontecimentos marítimos da Bahia nos últimos dez anos, de acordo com dados da Marinha do Brasil.

Por volta das 7h15, a Cavalo Marinho I, uma das lanchas com cerca de 120 pessoas abordo, naufragou ao não suportar a força do impacto de uma onda. Sem lista de passageiros, houve comoção tanto em Salvador quando no município de Mar Grande, destino inicial da embarcação. Famílias inteiras buscavam alguma notícia sobre o acidente em dois postos de emergência montados nos Terminais Marítimos da capital e da ilha.

Os primeiros socorros foram prestados por populares em barcos que passavam pela região no momento do naufrágio. A solidariedade de banhistas e velejadores trouxe à terra firme os sobreviventes que deram os detalhes iniciais que guiariam bombeiros, marinheiros, policiais militares e agentes da Capitania dos Portos pelas águas e pelo ar, com apoio de dois helicópteros.

Hoje%2C quatro meses depois do acidente%2C os momentos de pânico que passei não saem da minha cabeça

(Moreninha Santana, sobrevivente da tragédia)

Cinco lanchas, quatro navios da Marinha com mergulhadores e outros 130 militares também participam do trabalho de resgate. Três navios da Base Naval de Aratu e três lanchas da Capitania dos Portos foram deslocadas para o local do naufrágio a fim de auxiliar nas buscas.

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"Nós recebemos um chamado de emergência via rádio por volta das 8h e, em seguida, mandamos três embarcações de resgate, imediatamente. Três navios da base com médico a bordo e todo aparato para dar socorro já estava a caminho. Também acionamos outros órgãos como o Graer, Samu e Bombeiros", disse o capitão-tenente da Marinha, Fernando Jeann Tôrres Araújo.

Horas depois, em Salvador, as atenções estavam voltadas ao retorno das embarcações militares que traziam vítimas e sobreviventes abordo.

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Um deles era o pequeno David, de apenas seis meses, que, apesar de todos os esforços das equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), não resistiu ao afogamento. O registro da tentativa de socorro à criança comoveu o mundo e se tornou um triste símbolo da tragédia.

Caída, a embarcação era a própria materialização da tragédia
Caída, a embarcação era a própria materialização da tragédia Caída, a embarcação era a própria materialização da tragédia

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Na tarde daquele dia, o número que todos temiam era divulgado em nota conjunta das forças-tarefas mobilizadas para o regaste. Seriam, ao menos, 19 mortos. Mais de 80 feridos e centenas de famílias impactadas.

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A imagem da lancha impressionava jornalistas, curiosos e todos os envolvidos nas buscas. Detida por um banco de areia, a Cavalo Marinho I, ainda à deriva, tombou pela última vez a alguns quilômetros do Terminal Marítimo de Mar Grande. Lá, ficou presa entre recifes.

Uma das sobreviventes, Morenina Santana, de 35 anos, é moradora da ilha e fazia a travessia de segunda a sábado para se deslocar até o trabalho. Morenina contou os momentos de pânico que viveu e afirmou que desde a tragédia, ainda não teve coragem de entrar em uma lancha.

"Era acostumada a fazer sempre a travessia. Faço esse trajeto umas 10 vezes por semana. Estava tudo tranquilo até eu perceber que tinha virado, já estava embaixo da água tentando respirar e não conseguia. Pedi tanto a Deus que eu suspendi a cabeça e tive a respiração. As madeiras começaram a quebrar. O barco começou a desmanchar. Foi aí que consegui ajuda. Hoje, quatro meses depois do acidente, os momentos de pânico que passei não saem da minha cabeça. Ainda não consegui pegar outra lancha novamente. Só utilizo o ferry. Acordo bem mais cedo, mas vale a pena".

Já o técnico em informática Edvaldo Conceição, 31, não embarcou na lancha porque se atrasou.

"Eu perdi a lancha de 6h e acabei vindo na próxima. Deus me deu uma nova oportunidade. Algumas pessoas ainda ajudaram a resgatar, colocar nos botes, mas, infelizmente, nem todos sobreviveram", lamentou o técnico.

Caída, a embarcação era a própria materialização da tragédia.

A proprietária da Cavalo Marinho I, CL Transportes Marítimo, a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos da Bahia (Agerba) e a Capitania dos Portos da Bahia são réus do processo movido pelas Defensorias Públicas Estadual e Federal por conta do naufrágio. Um dos principais argumentos é a situação em que se encontravam os coletes salva-vidas da lancha. Sobreviventes afirmaram que muitos coletes estavam amarrados de tal forma que seria, praticamente, impossível vesti-los em uma emergência.

Deus me deu uma nova oportunidade

(Edvaldo Conceição, sobrevivente da tragédia)

São tantas as vítimas diretas e indiretas, que há receio por parte do Ministério Público de que somente o patrimônio da CL Transportes - avaliado em pouco mais de R$1 milhão - não fosse suficiente para arcar com todas as indenizações requeridas.

Em nota enviada à imprensa, a dona da lancha Cavalo Marinho I finaliza dizendo que "não mediu, nem medirá esforços em atender, não somente sobreviventes, bem como familiares abalados emocionalmente pela situação, na proporção e forma adequadas".

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*Estagiário do R7, com a colaboração de Ruanderson Muniz

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