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Delação da JBS leva empresários bem-sucedidos para trás das grades

Acordo prometia ser uma bomba, mas acabou em reviravolta

Retrospectiva 2017|Fernando Mellis, do R7

Joesley está preso desde setembro
Joesley está preso desde setembro

Fim de tarde de 17 de maio de 2017. Uma notícia cai como uma bomba no meio político brasileiro: “Dono da JBS grava Temer dando aval para compra de silêncio de Cunha[ex-deputado federal, preso em Curitiba]”, estampava a manchete do site de um jornal. As semanas seguintes seriam de crise profunda no governo e acabariam em uma grande reviravolta.

A bolsa de valores abriu o dia 18 de maio no vermelho e teve que acionar um mecanismo para suspender temporariamente o pregão, devido à queda de 10,46% do índice Ibovespa provocada pela revelação. O dólar disparou 5,77% naquela manhã. A incerteza tomou conta de uma economia que começara a se recuperar da crise.

O presidente Michel Temer reagiu, foi à TV, disse que não iria renunciar e chamou o delator Joesley Batista de “fanfarrão” e “delinquente”. Também pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o processo fosse suspenso, pois alegava que o áudio havia sido adulterado.

Os irmãos Batista foram beneficiados com a imunidade, algo que despertou a ira de muitos políticos. Sem qualquer pendência com a Justiça, os empresários foram para os Estados Unidos antes de a delação vir à tona. Mas tiveram que voltar.


Aos poucos começaram a surgir detalhes de como havia sido estruturada a delação dos donos do maior frigorífico do mundo, que contou com ações controladas junto com a Polícia Federal para flagrar entrega de dinheiro ao ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures e ao primo do senador Aécio Neves, Frederico Pacheco.

Rocha Loures foi preso e Aécio chegou a ser afastado do cargo. O ex-deputado agora se encontra em prisão domiciliar. Já o senador pode retornar ao cargo após decisão do Supremo. 


Nos depoimentos, Joesley e o executivo Ricardo Saud revelaram como distribuíram propina a 1.829 políticos de 28 partidos. O gasto com tudo isso? R$ 400 milhões ao longo de cinco anos.

O acordo tinha tudo para dar certo, se não fosse por um descuido dos delatores: eles gravaram a si mesmos e enviaram os áudios por engano para a Polícia Federal.


As conversas levantavam fortes indícios de Joesley e Saud haviam omitido diversas informações da PGR (Procuradoria-Geral da República). Também revelavam detalhes sobre como usaram o ex-procurador Marcello Miller para o acordo com o Ministério Público. Diante das revelações, o então procurador-geral, Rodrigo Janot, decidiu pedir a suspensão dos benefícios da delação e a prisão da dupla.

Cara a cara com um juiz federal, Joesley lamentou a prisão. "Eu fui mexer com os poderosos, donos do poder, e estou aqui agora", disse.

Três dias após Joesley ser preso, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal em São Paulo deflagraram uma operação cujo alvo era a atuação da J&F no mercado financeiro antes e depois da divulgação do acordo de delação. 

Em 13 de setembro, o outro irmão, Wesley Batista, foi preso acusado do crime de insider trading. Joesley também teve a prisão decretada neste caso, mas já estava encarcerado.

A reviravolta ajudou Michel Temer a se fortalecer politicamente após o desgaste. Ele conseguiu suspender na Câmara o andamento das duas denúncias feitas por Janot.

Wesley: "Não me arrependo de ter delatado"
Wesley: "Não me arrependo de ter delatado"

A última vez em que os três envolvidos foram vistos em público foi na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da JBS, no Congresso. Eles foram chamados para depor em ocasiões diferentes. Nenhum quis responder às perguntas feitas pelos parlamentares.

Wesley, que depôs no começo de novembro, chegou a ler uma rápida carta que escreveu. Disse que quando fez a delação não sabia do quanto isso afetaria a vida dele e da família.

O empresário acrescentou, no entanto, que não se arrependia de ter denunciado o presidente e outros políticos.

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