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Trump: 1º ano de decisões duras e polêmicas  

De Cuba à Coreia do Norte, presidente adotou posturas incisivas

Retrospectiva 2017|Ana Luísa Vieira, do R7


Trump criou instabilidade pelo discurso
Trump criou instabilidade pelo discurso

Se 2016 terminou com a inesperada vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, 2017 acaba com os resultados controversos de seu primeiro ano no poder. No que diz respeito às relações internacionais, o líder fez renascer conflitos em que há muito tempo os EUA não se envolviam, conforme lembra Sidney Ferreira Leite, especialista em Relações Internacionais e Pró-reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

— Eu diria que a primeira grande ação polêmica foi o ataque militar à base aérea na Síria, em abril. Sem dúvida foi uma ordem que fugiu ao padrão de posicionamento Estados Unidos desde a saída de Bush do poder. Barack Obama foi muito estratégico em não tomar nenhuma atitude incisiva na região e Trump, em resposta ao uso de armas químicas pelo governo de Bashar Al Assad, ordenou um ataque com mísseis.

Tais posturas, aliás, tornaram-se uma marca do primeiro ano do ex-empresário do ramo imobiliário no poder. Neste contexto, chamaram atenção a retomada do embargo à Cuba, o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel e a confirmação de que os EUA seriam retirados do acordo climático de Paris — ainda que a medida não tenha se concretizado. O mesmo se deu em relação à saída dos americanos do tratado internacional para conter o programa nuclear do Irã, explica Geraldo Zahran, professor do curso de Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

— Ele não tomou nenhuma decisão de fato em relação ao Irã ou ao muro que havia prometido construir na fronteira com o México. O que ele fez foi criar uma instabilidade pelo discurso, mas não houve grandes avanços significativos e materiais por enquanto.

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Restrições à imigração e Coreia do Norte

Em dezembro, a Suprema Corte dos EUA ainda garantiu uma vitória a Donald Trump ao permitir que a sua restrição de viagem atingindo pessoas de seis países de maioria muçulmana — Irã, Líbia, Síria, Iêmen, Somália e Chade — entrasse em vigor. Os especialistas ouvidos pelo R7 concordam, entretanto, que nenhuma dessas polêmicas do presidente no âmbito internacional se compara à crise retórica com a Coreia do Norte — inflada pelos 16 testes com mísseis ordenados por Kim Jong-un desde o início do ano.

“Foi surpreendente porque a Coreia do Norte não havia sido um tema muito abordado pelo Trump durante a campanha. Ele bateu no México, bateu na China, mas os norte-coreanos eram sempre uma questão periférica que, durante o mandato, passaram a ocupar o centro dos debates”, pondera Sidney Leite.

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Leonardo Paz, professor de Relações Internacionais do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), reforça que o presidente trilhou um caminho oposto daquele que seu antecessor vinha traçando em relação à Coreia do Norte.

— Na era Obama, o discurso do louco era de Kim Jong-un. Era ele quem partia sempre da imprevisibilidade. Hoje, no que diz respeito à Coreia do Norte, Trump também adotou o discurso do imprevisível. Temos atualmente dois imprevisíveis. O grande problema disso é que a margem para más interpretações ou erros de cálculo fica cada vez maior. De qualquer forma, para o próximo ano, eu tenho minhas ressalvas em relação a um conflito aberto: o custo para o Japão e para a Coreia do Sul seria muito alto e não consigo ver os norte-coreanos colocando em prática seu discurso. A possibilidade de uma ação militar direta também não é uma opção tão viável para os americanos.

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Para 2018, a expectativa é de que a cena não mude muito. De acordo com levantamento feito em outubro pelo Pew Research Center — empresa de pesquisa de opinião dos Estados Unidos — apenas 23% dos americanos acreditam nas habilidades de Trump de lidar com crises internacionais. “Penso que a tendência é de que este continue sendo um governo sem muitos projetos. É um governo que age noi em cima de crises, mas parece incapaz de desempenhar o papel histórico que se espera dos EUA nos conflitos globais — que é o de moderador”, conclui Leite.

Dentro de casa

No campo doméstico, a primeira conquista marcante de Donald Trump se deu em dezembro, quando sua proposta de reforma fiscal com o objetivo de reduzir impostos para empresas e ricos foi aprovada pelo Senado americano. O corte, segundo os republicanos, deve aumentar ainda mais uma economia já em crescimento. Na opinião de Geraldo Zahran, entretanto, a vitória pode ser considerada uma faca de dois gumes — já que a dívida nacional deve aumentar em 1,4 trilhão de dólares nos próximos dez anos.

— Economicamente falando, o Trump se beneficiou muito da forma como o Obama deixou a casa em ordem. O que existe agora é uma animação do mercado tanto pelo corte de impostos como pela legislação financeira mais favorável. Então existe um clima de otimismo. Em relação à reforma tributária, a economia pode até crescer, mas no final do primeiro mandato o déficit público já vai ser maior também.

O presidente ainda se esforçou para alterar políticas implementadas pela administração anterior, com destaque para o Obamacare — que ajuda famílias pobres a pagar um plano de saúde com subsídio do governo. Em campanha, Trump prometeu acabar com o programa e substituí-lo, mas, ao longo de 2017, não conseguiu revogá-lo de fato junto ao Congresso norte-amerciano: “Apesar de ele não ter conseguido acabar com a lei do Obamacare, ele faz o que pode para tirar financiamento do programa, em uma série de medidas pequenas”, explica Zahran.

Os especialistas ouvidos pelo R7 acreditam que, no próximo ano, o grande termômetro para a aprovação de Trump serão as eleições legislativas — em que os americanos escolhem seus representantes na Câmara e no Senado. Zahran considera essencial que o presidente se engaje pelos candidatos republicanos.

— O partido democrata tem se mostrado forte nas pesquisas e, se o Trump não conseguir gerar nenhum movimento positivo, é provável que os congressistas que desejam se reeleger comecem a se afastar dele e tornar sua administração ainda mais difícil.

Segundo o último estudo do Pew Research Center, apenas 34% dos americanos aprovam o desempenho geral de Trump, enquanto 59% desaprovam. Em 2018, a expectativa é de que os eleitores do presidente comecem a desconfiar de que ele não tem condições de cumprir uma das suas maiores promessas de campanha: a retomada do emprego industrial.

“Na política norte-americana, um governo começa, de fato, a ser questionado depois de dois anos. Após esse período, na cabeça do eleitor norte-americano, um presidente precisa dizer a que veio. E o Trump deve passar por grandes questionamentos internamente, já que hoje é completamente inviável resgatar o modelo industrial que projetou os EUA depois da 2ª guerra. Eu acrescento: dentro do país, esse governo não demonstra muita capacidade de ampliar sua base de apoio”, conclui Sidney Leite.

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