Racismo esteve na pauta dos famosos em 2017
Intolerância a negros nas redes sociais virou caso de polícia
Retrospectiva 2017|Aurora Aguiar, do R7
Os ataques racistas nas redes sociais mais uma vez fez uma série de vítimas ao longo do ano. Entre elas, vários famosos expuseram os episódios de violência e ajudaram a colocar o tema em pauta.
Foi o caso de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. Em novembro, o ator prestou queixa contra Dayane Alcântara Couto de Andrade, também conhecida como Day Mcarthy, após ataques racistas contra a filha do casal, Titi, de 4 anos. Na ocasião, Gagliasso falou sobre o crime na delegacia, em Jacarezinho, no Rio de Janeiro.
— Não vai ficar impune. A delegada foi bem clara pra mim. Ela cometeu um crime, é uma criminosa. Ela pode estar em qualquer lugar do mundo, mas vai ter que responder por isso.
Day soltou um vídeo que chocou a internet. Nele, a mulher faz comentários pesados sobre a menina.
— Tem um cabelo horrível, um nariz de preto, horrível. E o povo ainda fala que a menina é linda.
Para completar, chamou a criança de "macaca".
De acordo com o advogado Alexandre Celano, que defende Bruno, Giovanna e Titi, o inquérito já foi aberto e o caso corre em segredo de justiça. Ele ainda afirmou ao R7 que a família, apesar de triste com o fato, segue forte e engajada em fazer com que a mulher seja punida.
Titi foi adotada há dois anos pelo ator e a mulher, a atriz e modelo Giovanna Ewbank. Esta é a segunda vez que o casal registrou queixa por racismo. Em novembro de 2016, Gagliasso foi à DRCI (Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática) após a menina ser alvo de comentários maldosos na internet.
Um vídeo de uma palestra de Taís Araújo, em São Paulo, debatendo o impacto de temas como racismo e machismo na educação dos filhos, ganhou destaque nas redes sociais. Mas a apresentação da atriz, no entanto, foi usada como como combustível para uma série de ataques na web.
A atriz foi uma das palestrantes do TEDxSãoPaulo, que aconteceu em agosto e teve o tema Como criar crianças doces num país ácido. No discurso, a atriz disse que os filhos, João Vicente, de 6 anos, e Maria Antônia, de 2 anos e 7 meses, não tinham total liberdade por serem negros e viverem em uma sociedade racista.
— Quando engravidei do meu filho, fiquei muito aliviada de saber que no meu ventre tinha um homem. Porque eu tinha a certeza de que ele estaria livre de passar por situações vivenciadas por nós, mulheres. Teoricamente, ele está livre. Certo? Errado. Errado porque meu filho é um menino negro.
O discurso foi atacado nas redes sociais e a atriz acusada por muita gente de “vitimização” e “criar uma guerra de raças”.
“O que a Taís Araujo quer? Uma guerra de raças igual a que teve nos Estados Unidos? Onde esse discurso quer chegar? Acho sem coerência vindo de uma atriz que faz parte da elite”, disse uma internauta. “Taís Araújo e o marido, casal vitimista. Faturam milhões em publicidades e agora usam os filhos para se vitimizar”, criticou outro.
Outra história que agitou a mídia envolveu o jornalista William Waack. Um vídeo vazado nas redes sociais mostra o então âncora do Jornal da Globo fazendo um comentário racista antes de entrar no ar. Nas imagens, ele está em frente à Casa Branca, em Washington, nos Estados Unidos, ao lado de Paulo Sotero, diretor do Wilson Center de Washington. Quando se houve o som de uma buzina de fundo, o jornalista vira para trás e diz: “Tá buzinando por quê, seu merda do c...?”.
William Waack continua: “Não vou nem falar nada porque já sei quem é”. O âncora, então, se vira para o entrevistado e diz: “É preto!”. O jornalista repete, falando um pouco mais alto.
Paulo Sotero disse ao R7 não se lembrar do episódio nem conseguir entender o que é dito pelo jornalista no vídeo, negando racismo. Robson Ramos e Diego Pereira, os responsáveis pela gravação, disseram que o intuito era discutir o tema.
— Acho uma injustiça ele, como formador de opinião, emitir uma ofensa racial sem qualquer tipo de justificativa. Esse tipo de pessoa não pode ter esse tipo de pensamento.
No dia 8 de novembro a TV Globo afastou Waack de suas funções e divulgou uma nota oficial sobre o assunto.
— A Globo é visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações. Nenhuma circunstância pode servir de atenuante. Diante disso, a Globo está afastando o apresentador William Waack de suas funções em decorrência do vídeo que passou hoje a circular na internet, até que a situação esteja esclarecida.
Waack segue contrato pela TV Globo, porém, afastado do trabalho. De acordo com a colunista do R7 Keila Jimenez, o jornalista busca isolamento.
Em setembro deste ano, Emicida foi alvo de injúria racial e ameaças nas redes sociais e acionou o MP-SP (Ministério Público) para investigar o caso. O procurador de Justiça Paulo Marco Ferreira Lima é um dos responsáveis pela apuração do fato, ao lado da delegada Barbara Lisboa Travassos. Ele repudia o episódio.
— Temos uma atitude que precisa ser combatida desde o começo. Podemos não gostar, mas é preciso respeitar.
O R7 teve acesso ao ofício, que informa a entrega de um pen drive com as evidências de discriminação. O conteúdo não foi revelado pela Justiça.
— Tem como rastrear pela URL [endereço eletrônico do conteúdo]. Há como descobrir todos os dados da pessoa. Isso dá cadeia. Mais de uma pessoa ofendeu ele. As injúrias aconteceram em várias redes sociais do músico.
Procurado na época, o rapper informou que não iria se manifestar sobre o episódio.
Leonardo Santos, que participou da última edição do Master Chef Brasil, da Band, amplia a lista das personalidades vítimas de ataques racistas em 2017. Um internauta afrontou o participante do programa com a seguinte declaração.
— Vocês são um lixo, eu tenho nojo de todos vocês, tenho pena de quem já comeu ou come qualquer m**** que vocês fazem, eu torço todos os dias pra você ser humilhado e eliminado. Volta pra senzala, embuste, lixo.
Santos, por sua vez, desabafou, também por meio das redes sociais.
— Se doeu? Não, nenhum pouco. Durante toda a minha vida eu fui perseguido nos corredores dos supermercados, tive minhas notas de dinheiro reviradas e conferidas pelo caixa do supermercado 40 mil vezes, fui desprezado pelo vendedor por achar que eu não poderia comprar algo, várias outras situações que qualquer outro cidadão negro já passou. Isso tudo contribuiu pra postura que eu adoto hoje, tudo isso que vocês chamam de arrogância, prepotência ou qualquer outro rótulo que não cabe num participante branco, se chama autoconfiança, autoafirmação, foco. São coisas que pessoas como nós precisam ter muito pra poder sobreviver porque não recebem isso de outras pessoas.
E a lista só cresce. Lucy Ramos também foi vítima de crime racial na internet. Em sua rede social, a atriz prometeu ir à polícia denunciar o caso. Ela também fez um desabafo.
— Como pode uma pessoa criar uma conta no Instagram, única e exclusivamente para ofender outras pessoas! Porque com certeza eu não fui a única. A covardia é tanta que nem mostrar o rosto teve coragem. Nada disso me atingiu. Pensei muito se deveria ou não postar essas ofensas, mas fiz questão de postar para dizer que não podemos deixar esse tipo de pessoa sair ofendendo outras, se escondendo por trás da internet e achando que nada vai lhe acontecer. Estou indo atrás dos meus direitos e essa pessoa não vai sair impune".
Monalysa Alcântara, a Miss Brasil 2017, também faz parte de uma longa e extensa lista de ataques racistas na internet. Um usuário da rede chegou a comentar: "tem cara de empregada". Em entrevista ao Programa do Porchat, a miss garantiu não se surpreender com as palavras de ódio e discriminação proferidas contra ela nas redes sociais.
— (Os xingamentos) Não me assustaram, porque, infelizmente, eu já passei por muita coisa. Essas pessoas falam porque na internet é muito incrível... é terra de ninguém. Eu respondo trabalhando. Não é linda a minha coroa?
Após o episódio, ela representou o Brasil no concurso Miss Universo e ficou entre as dez mulheres mais bonitas do mundo.