Augusto Melo se define 'louco e visionário', quer ser presidente do Corinthians e promete ganhar tudo
Candidato relata ameaças de morte durante a campanha, critica gestão de Duilio e quer desbancar chapa de Andrés Sanchez
Esportesnoinsta|Gabriel Herbelha, do R7
No dia 25 de novembro, cerca de 4.000 sócios do Corinthians vão às urnas decidir o futuro de um clube com mais de 30 milhões de torcedores, que movimenta praticamente R$ 1 bilhão por ano.
Desde a virada de 2007 para 2008, o Corinthians é comandado pela Renovação e Transparência, chapa que tem Andrés Sanchez como principal força política e que comandou o clube no período mais vencedor da história, com conquista de Libertadores e Mundial de Clubes. Nesse meio-tempo, o grupo emplacou seis vitórias presidenciais.
Após seguidos fracassos dentro de campo nos últimos anos e com um acúmulo impressionante de dívidas, que passam de R$ 1,6 bilhão, Augusto Melo, sócio do clube há 40 anos, surge como o grande nome da oposição para vencer e comandar o clube alvinegro a partir de janeiro de 2024.
Augusto disputou a eleição em 2020 e perdeu para o atual presidente, Duilio Monteiro Alves, por apenas 144 votos. Aos 59 anos, define-se como "empresário, empreendedor e visionário".
Em entrevista ao R7, ele contou os planos para comandar o clube, que não conquista um título desde 2019 e viu seus principais rivais levantarem taças importantes nas recentes temporadas.
A proposta mais mirabolante de Augusto envolve o aumento da capacidade da Neo Química Arena de 49 mil torcedores para mais de 65 mil lugares.
Ele garante que a obra é víavel e que o Corinthians não vai colocar um centavo nem aumentará o custo de manutenção. Mas, no plano de mandato, Augusto não explica como esse processo se dará. "Eu sou louco, sim", brinca o candidato.
No próximo sábado, tentará desbancar André Luiz Oliveira, o "André Negão", candidato da situação, em um pleito que promete ser acirrado. Entre as pessoas que frequentam o Parque São Jorge, ninguém consegue prever o que acontecerá na votação.
Confira a entrevista na íntegra
R7: Por que o torcedor do Corinthians deve acreditar em Augusto Melo?
O Augusto é novo na política do Corinthians, é um cara que já teve um trabalho na base. Sem uma caneta pesada, como é a do presidente, só com conhecimentos. Porque eu conheço muito o clube, estou há 40 anos aqui, conheço todos os departamentos.
Tenho muito para ajudar o clube, que vive um momento muito complicado, e o Augusto hoje é o único candidato que conseguiu desde a década de 60 unir uma oposição, uma frente ampla para o bem do Corinthians.
Você é aposentado, disse diversas vezes que aprecia os momentos em família e gosta de praticar atividades no clube social com os amigos. Da onde veio a vontade de abrir mão disso para virar presidente em um dos momentos mais conturbados dos últimos anos?
Na verdade, isso não é uma escolha, isso vai entrando em você. Durante 28 anos no clube, eu sempre frequentei o clube social para lazer, nunca me envolvi em política. Depois de assumir a base, passei a participar da administração de um cargo mais importante, comecei a entender o que estava acontecendo, e foi onde me desliguei do grupo anterior. Isso aí foi entrando na veia, você não percebe. Quando fui perceber, já estava num determinado momento que não tinha mais como voltar.
Como está sendo este período pré-eleitoral? Você já relatou ter sofrido ameaças de morte e que até mesmo familiares passaram por situações parecidas. Você sente medo?
É difícil, medo, não. Sinto pela minha família, porque qualquer coisa que possa acontecer você se sente culpado, mas eles estão me dando todo o apoio possível, estão bem seguros. Hoje tenho que andar com segurança e carro blindado. Tive que comprar carro blindado para minha filha. Não podemos colocar a localização onde estamos, não temos mais uma vida social durante a campanha.
A gente sabia que iam acontecer muitas coisas, mas não dessa forma. Eu sou pai de família. Para um filho, ouve que o pai tem tentativa de estupro, tráfico de menor... Eles já tentaram de tudo, uma baixaria incrível, agora também como racista. Temos um nome limpo, ficha limpa, tanto que tentaram nos impugnar sem nenhum motivo.
[Sobre a acusação de racismo, Augusto Melo se refere a áudios vazados, dos quais ele próprio admite a autoria, em que ele se refere a Aparecida Antônia Manoel de Oliveira, a "Tia Cida", cozinheira do União Barbarense, clube do interior paulista, como "gorda negrona" e "essa nega". Pela declaração, ele foi intimado a prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência e Assédio Sexual contra Mulheres da Câmara Municipal de São Paulo.
O presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), é candidato a vice na chapa de André Negão.]
A sua equipe realiza pesquisas dentro do clube para monitorar a intenção de voto dos sócios? Há um sentimento de favoritismo para vencer a eleição?
Nós vamos ganhar a eleição. Pesquisa para mim não adianta nada. O que adianta é o trabalho que nós estamos fazendo boca a boca, visitando o sócio do clube lá dentro e fora. É isso que vai nos dar vitória. Sabemos que temos uma condição ótima, tanto que estão acontecendo todas essas situações.
Andrés Sanchez é, há pelo menos 15 anos, o grande nome da política corintiana, e, após a sua saída da presidência, em 2011, todos os candidatos apoiados por ele foram eleitos. Qual é a sua opinião sobre ele? Você acha que ele será uma figura política importante nestas eleições?
Não, acho que ele já teve esse passado, tanto que a gestão desse pessoal [chapa Renovação e Transparência] está desgastada. Como eu falei, desde os anos 60 não existia uma frente ampla, uma oposição unida em prol de um candidato só. Isso mostra o quanto o clube está desgastado, o quanto o nosso time vem passando por dificuldades. O próprio Andrés disse que o clube está largado, com dívidas milionárias. Queremos a recuperação de credibilidade.
Andrés já teve o passado dele, e eu acho que agora não cabe mais, ele vem se desgastando. Se você pegar as últimas eleições, a porcentagem de votos que eles tiveram foi diminuindo.
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O Corinthians tem uma das maiores folhas salariais do país, próxima a R$ 18 milhões, e mesmo assim acumulou fracassos na temporada. Você é a favor de fazer uma grande renovação no elenco?
Teremos uma grande reformulação, sim, não tenha dúvida disso. O Corinthians precisa disso e, aliás, verba para isso tem, acreditamos que esteja em torno de R$ 22 milhões. Tem como você montar um grande time, embora o futebol não se faz só com dinheiro; futebol se faz com gestão, com planejamento, com vestiário, com monitoramento. Se você for pegar o nosso time de 2012, ele foi feito exatamente assim, com monitoramento, e inclusive foi na gestão do Andrés que o departamento do Cifut [Centro de Inteligência do Futebol] começou a ser desfeito.
Ele era um dos melhores departamentos que nós tínhamos no futebol brasileiro, e queremos retomar isso. Estamos monitorando grandes profissionais, queremos entrar lá, entender a estrutura, estruturar mais, para podermos monitorar atletas, não só no Brasil, mas sul-americanos, que tenham as nossas características. Não tenho dúvida que, com uma folha salarial dessas, vamos montar um grande time.
A Neo Química Arena tem hoje capacidade para 49 mil lugares, e uma das maiores médias de público da Série A (39.781). Quais são os seus planos para o estádio?
Esse é o nosso sonho. É claro que é difícil, mas estamos trabalhando muito para isso. Já conversei com algumas empresas, e o Corinthians não gastará R$ 1. Nós estamos em troca de um nome de propriedade, que é isso que nós queremos, por isso que você tem que trabalhar do tamanho dessa marca. O Corinthians garante visibilidade para qualquer grande empresa.
O retorno é garantido. Temos uma das torcidas mais consumistas do mundo, estamos na região mais rica do país e temos uma das maiores torcidas do mundo. Essa marca só é o que é graças a essa torcida.
Nossa arena é maravilhosa, mas ela foi muito elitizada. E nós queremos trazer o Corinthians de volta para o corintiano.
Nós queremos a ampliação do [setor] norte, de 6.000 para 6.500 lugares, a ampliação do [setor] sul, de 6.000 para 6.500 lugares, toda de alvenaria. A partir do momento que eu ampliar a arena, eu consigo ter um ingresso popular, eu consigo ter a arena lotada, ela dá visibilidade para qualquer investidor.
Vamos trocar essa obra pelo nome de alguma propriedade, como o Centro de Treinamento Joaquim Grava e o Parque São Jorge, para essa empresa ter visibilidade e divulgar muito mais ainda a sua marca.
Muitos falaram que isso iria dobrar o custo de manutenção, mas é mentira, não existe isso. Você aumenta proporcionalmente. Não vai ter problema nenhum, ao contrário, vai ter uma grande melhoria não só para o torcedor, mas também em termos de receita para o Corinthians.
Segundo o balanço financeiro de 2022, o clube tem dívidas de curto prazo, a serem pagas em menos de um ano, acima de R$ 500 milhões. Como você pretende resolver essa questão?
Esse problema não se resolve só com renegociação de dívidas. Esse grupo que está aí só tenta renegociar dívida e não pagar, por isso que essa dívida está monstruosa. São juros sobre juros. Renegocia, faz um parcelamento, não paga e daqui a pouco vem uma nova ação e triplica esse valor. Ou seja, se tem uma receita e renegociou, pague. Queremos entender também por que que não paga.
Nós temos uma equação de uma dívida, com uma receita também razoável, porque o que o Corinthians precisa fazer é parar de gastar errado, parar de contratar errado, parar de pagar altos salários para quem não merece.
Como quem, por exemplo?
Quando você vê a transação do Yuri Alberto com cinco jogadores, que um só pagaria 100% e de repente compramos só 50% do atleta. O que nós teríamos de bom, que seria a receita de venda de atletas, nós estamos vendendo por um preço bem abaixo.
A receita de venda de atletas, nós vamos deixar sempre para a terceira ou quarta principal receita, porque nós queremos primeiro receitas pontuais, vindas de empresas. A gente tem uma boa arrecadação. O que nós queremos fazer agora é renegociar todos esses débitos que foram mal renegociados e pagar.
Temos que voltar a ser um bom pagador, para que tenhamos credibilidade. Essa gestão pegou o clube em 2020, com uma dívida de R$ 960 milhões, vendeu mais de R$ 230 milhões em atletas, e não vimos essa dívida abaixar.
Hoje, qualquer presidente que sentar na cadeira do Corinthians, se souber gastar, ele dá uma economia de 30%. O Corinthians hoje é uma marca muito forte, que consegue crescer sozinha.
Durante uma coletiva de imprensa no mês passado, Duilio acusou você de já estar negociando com agentes de jogadores a chegada de atletas para o próximo ano. Isso é verdade?
Ele falou isso, né? Que bacana, sinal que eu estou preocupado com o Corinthians. Realmente, eu estou no mercado, monitorando, preocupado com o nosso time, para que a gente possa voltar a ser protagonista. Nesses três anos, o Duilio destruiu praticamente o nosso Corinthians. Estamos monitorando, mas não fizemos proposta para ninguém, mesmo porque eu não sou presidente. Além de atletas, estamos monitorando e visitando empresas. Nós queremos montar um planejamento para três anos não só com atletas, mas com empresas, para que elas possam investir, para que elas possam ter uma garantia de retorno.
Quando Mano Menezes foi anunciado como treinador do Corinthians, com vínculo até o fim de 2025, você, por meio de assessoria, soltou uma nota oficial dizendo que ele não seria a sua prioridade no Corinthians. Há alguma chance de o clube iniciar 2024 com outro treinador?
Quando montamos um planejamento para os próximos três anos do Corinthians, não pensávamos no Mano Menezes, porque na época o Mano estava empregado no Internacional. Eu nunca disse que eu não trabalharia com Mano, ao contrário, ele tem uma história no Corinthians, o Mano sabe montar time, é um grande profissional.
Eu critico a forma como ele foi contratado. O Flamengo contratou o Tite, um dos melhores treinadores do país, com vínculo por um ano, até o fim de 2024, e nós contratamos o Mano por dois anos e três meses. É esse tipo de contrato que nós queremos entender. É um grande treinador, nós temos um projeto que vamos sentar com ele e torcer para ter a maior pontuação possível, para que a gente possa pegar pelo menos a Sul-Americana.
Nos últimos meses, clubes como o Palmeiras e o Fortaleza romperam relações com as suas principais torcidas organizadas, após casos de violência. Qual será a sua relação, pelo menos inicialmente, com esse grupo de torcedores?
A nossa torcida é o nosso maior ativo, o maior patrimônio. Eu quero sempre estar em paz com essa torcida porque, como eu falei, é a torcida que nos dá as receitas, é ela quem faz o Corinthians ser grande. Eu vou ser um presidente muito claro, com toda a lisura possível, para que nunca deixe chegar a isso. O que você precisa fazer com esses torcedores é demonstrar que sua gestão é limpa, honesta, transparente de verdade. É isso que nós queremos. Nós temos dentro do nosso projeto a “Voz do Timão”, em que nós queremos conversar com a torcida organizada e com o nosso sócio do clube social. Nós teremos pelo menos uma vez por mês uma reunião.
No futebol masculino, o Corinthians não é campeão nacional desde 2017 e não levanta uma taça desde abril de 2019. Como é possível recolocar o clube no caminho de títulos? Você, como presidente, pretende estipular uma meta no âmbito esportivo?
Eu sofro igual ao torcedor. Tudo o que ele passa, eu passo, a única vantagem é que vou ter a caneta na mão. Eu não vou abrir mão de um time competitivo, um time para ganhar tudo. Eu sou corintiano, eu quero ganhar tudo, eu vou montar um time para ganhar tudo. Nós já temos uma grande receita para que eu possa montar esse grande time.
Um grande time é a porta de entrada da nossa instituição. Eu quero ser feliz, porque eu quero ver o meu time campeão. Não tenho dúvida que nós montaremos um grande time. Então isso é uma promessa. Não vou abrir mão disso.
Esses times que você citou [Palmeiras e São Paulo] estavam muito pior que a gente e estão aí. Tiveram gestão profissional, conseguiram equacionar suas receitas e estão ganhando grandes títulos.
Clubes que estavam em patamares de dívidas parecidos com o do Corinthians, como o Cruzeiro, Botafogo, Vasco e Atlético Mineiro, optaram pelo caminho da SAF. Qual é sua opinião sobre vender o futebol do clube? O corintiano vai poder pensar nisso se o senhor for presidente?
De forma alguma. Eu sou contra a SAF no Corinthians. O clube jamais vai virar SAF. Nós somos 37 milhões de proprietários dessa marca. Foram esses 37 milhões que fizeram essa marca ser o que ela é hoje, e o poder de recuperação do Corinthians é muito maior que qualquer outro clube que virou SAF. Nós temos uma condição de recuperação muito grande. Precisamos voltar a ter credibilidade no mercado.
Temos uma receita aí de R$ 900 milhões, com uma dívida de R$ 1,6 bilhão, somando o estádio. Basta parar de gastar errado que começamos a equacionar.
Qual perspectiva você teria para o futuro do Corinthians caso o seu adversário, André Negão, seja eleito?
Eu tenho até medo. Será que ele vai assumir? Não tenho dúvida que nós vamos ganhar a eleição, mas, se acontecer uma catástrofe, um desastre, desse grupo continuar no poder. O Corinthians precisa de socorro. Está na hora de uma reformulação. Você tem uma marca como o Corinthians por trás, você tem uma instituição maravilhosa, com uma das maiores visibilidades do mundo, que ela te credencia para que você crie grandes projetos, e eu penso grande como o Corinthians. Eu não penso pequeno como essa gestão que está aí, eu sou visionário, sim. Eu sou louco, sim.
R7: Sendo eleito, qual será a primeira ação como presidente?
Uma auditoria geral, para que a gente possa entrar limpo. O que aconteceu para trás não é problema meu, mas vou consertar. Daí para a frente é um problema nosso, com toda a transparência verdadeira e possível para que a gente não possa ter problema com o torcedor. Ao contrário, para que a gente possa ter uma receita ainda melhor, com credibilidade, que é isso que nós queremos passar para esse torcedor e ao mercado, para que a gente volte a ser bom pagador e para que a gente possa ter grandes atletas que queiram jogar para o Corinthians.
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