Seis meses após deixar o poder, Dilma leva vida simples em Porto Alegre

Seis meses após ser afastada do poder, e três meses depois de deixar o Palácio da Alvorada, a primeira mulher a comandar o País leva uma vida pacata e simples em Porto Alegre (RS). De volta ao antigo apartamento de cerca de 170 m², Dilma Rousseff passa os dias rodeada de livros e CD’s. Em entrevista recente, ela se diz feliz, embora preocupada com os rumos do País. E não demonstra sentir falta do poder.

— Estou perfeitamente [feliz aqui]. Do que eu gostava? Eu gostava do Alvorada. Das emas do Alvorada. Acho o Alvorada lindo. Ele retrata a força do País, a ambição do povo.

Às margens do Guaíba, a ex-guerrilheira e agora ex-presidente mantém o hábito que adquiriu em Brasília dos passeios de bicicleta. Recentemente foi abordada por um taxista enquanto pedalava. Ele pediu uma selfie e foi atendido.

O endereço, no bairro de classe média Tristeza, permite que Dilma fique perto da única filha, Paula, e dos dois netos. Ela já deixou o apartamento para ir ao Rio de Janeiro, onde a mãe Dilma Jane tem um apartamento e onde a ex-presidente mantém parte da sua biblioteca, e para Belo Horizonte, cidade natal da sua mãe e para onde ela se mudou após deixar o Alvorada.

Eventos públicos

De setembro a dezembro, participou de alguns eventos públicos pelo País e no Uruguai.

Em setembro, juntou-se a Jandira Feghali (PCdo B) em evento de campanha à prefeitura do Rio. Em outubro, também na capital fluminense, foi a um ato contra a 'Desconstrução do Estado Democrático de Direito', em uma faculdade de Direito.

Em novembro, esteve em Pelotas (RS) acompanhada do deputado federal petista Pepe Vargas, que foi seu ministro em três pastas diferentes. De Pelotas, foi até Montevidéu, sua única viagem ao exterior após o impeachment, sendo recebida pelo presidente Tabaré Vázquez. Ela participou de uma série de atos como parte da 'Jornada Continental por Democracia e Contra o Neoliberalismo'. No final de novembro, a ex-presidente participou do ato "Mulheres construindo a história, desde 1986", na sede da CUT, em São Paulo. 

Sem trabalhar no momento, Dilma deve assumir em breve o conselho da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT (Partido dos Trabalhadores), cargo para o qual deve ser oficialmente convidada nos próximos dias. 

Primeira mulher presidente do Brasil

Apesar de viver uma vida tranquila e de manter o discurso de que foi vítima de um golpe, o destino de Dilma Rousseff é muito diferente do que podia se imaginar quando ela tomou posse, em 1º de janeiro de 2011. 

No dia seguinte ao período de maior crescimento da economia brasileira, 7,5% em 2010, a primeira mulher a comandar o País é empossada em Brasília. A faixa que recebeu carregava o peso de seguir um governo extremamente popular, de um país promessa aos olhos do mundo, de manter o crescimento econômico em alta e deixar uma marca proporcional ao tamanho da responsabilidade.

O caminho trilhado por Dilma, no entanto, teve muito mais percalços. No primeiro ano, o crescimento econômico continuou, mas não mais a níveis chineses. A situação, no entanto, começa a piorar e no ano da eleição que a levaria para o segundo mandato o crescimento do País cai a 0,5%, seguido de uma retração quase quatro pontos percentuais no ano seguinte.

O descontrole econômico, somado ao avanço da Lava Jato e a perda de apoio no Congresso Nacional levaram ao processo de impeachment da presidente. Em 31 de agosto deste ano, após seis anos de gestão, a primeira mulher a presidir o País é impedida de concluir o segundo mandato e encerra o ciclo de 13 anos do comando petista no Brasil.