Hacker fica calado na CPMI ao ser questionado por parlamentares da oposição
Walter Delgatti Neto respondeu a todos os questionamentos antes do recesso da sessão; na volta, decidiu mudar de postura
Noinsta|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Diferentemente das primeiras horas de depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, o hacker Walter Delgatti Neto resolveu usar o direito de ficar em silêncio na segunda metade da sessão. A mudança de postura coincide com o momento em que a oposição começou a fazer questionamentos ao depoente.
O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o hacker a ficar calado diante de perguntas que possam incriminá-lo na CPMI, mas o habeas corpus só foi posto em prática pelo depoente na volta do recesso da sessão.
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A mudança de postura de Delgatti Neto gerou a revolta de parlamentares da oposição. "Até então, falava até o que não era perguntado. Estava se sentindo em casa. O seu silêncio fala mais do que suas palavras para agradar os membros do governo", criticou o senador Marcos Rogério (PL-RO).
Primeira parte da sessão
Mais cedo, em seu depoimento à CPMI, o hacker havia afirmado que foi ao prédio do Ministério da Defesa cinco vezes para conversar com militares. A ordem teria partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e o objetivo era pôr em prática o plano de divulgar à população questionamentos sobre a segurança do sistema eleitoral brasileiro.
Delgatti Neto contou que a ordem de Bolsonaro foi repassada ao assessor especial Marcelo Câmara. Segundo o hacker, a ideia de questionar a segurança do sistema eleitoral era falar da "lisura das urnas e das eleições". "O presidente disse: 'A parte técnica eu não entendo, vou te enviar ao Ministério da Defesa'", afirmou à CPMI.
O hacker disse que, nas idas ao Ministério da Defesa, foi recebido pelo ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira e se encontrou com a equipe técnica da pasta. Ele afirmou que deu orientações a respeito do relatório feito pelo ministério sobre o sistema de votação. "Posso dizer que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse", afirmou Delgatti Neto.
Delgatti Neto contou que o ex-presidente queria que ele "autenticasse a lisura das eleições, das urnas". O marqueteiro do ex-chefe do Executivo Duda Lima teria, então, aconselhado ao hacker criar um "código-fonte falso" para mostrar a possibilidade de invadir uma urna e fraudar as eleições.
O hacker afirmou também que Bolsonaro lhe ofereceu um indulto caso ele assumisse ter grampeado o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa do ex-presidente disse que vai entrar com uma queixa-crime contra Delgatti Neto sob a alegação de calúnia e difamação. Nas redes sociais, o advogado do ex-presidente, Fabio Wajngarten, negou a existência do grampo ou "qualquer atividade ilegal". "Mente e mente", completou.