Fotógrafo ouvido na CPMI narra ‘clima hostil’ durante invasão do Planalto e diz ter sido ameaçado
Adriano Machado afirmou ter retribuído o cumprimento de um extremista, registrado em imagens, por temer a própria segurança
Noinsta|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Em depoimento na condição de testemunha à CPMI do 8 de Janeiro, nesta terça-feira (15), o fotojornalista da Reuters Adriano Machado narrou um clima “hostil e instável” dentro do Palácio do Planalto durante as invasões dos prédios públicos na Esplanada. Ele também disse ter sido ameaçado com um taser, uma arma de choque, no momento em que resolveu deixar o prédio.
Machado afirmou que estava de plantão em 8 de janeiro e cobriu as manifestações pacíficas pela manhã, antes de sair para almoçar com a família. Ele disse ter sido avisado por um colega, por volta das 14h40, de que um grupo teria quebrado a barreira na Esplanada. Às 15h15, ele estacionou o carro no anexo do Palácio da Justiça para iniciar a cobertura.
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O fotojornalista estava com equipamento de segurança, incluindo colete à prova de balas, máscara de gás e capacete. Por volta das 15h30, notou grades quebradas no estacionamento do Planalto e, ao subir a rampa, uma movimentação que considerou relevante, “porque é algo que eu nunca tinha visto nos mais de 20 anos de cobertura na Esplanada”, disse.
Ao perceber uma pessoa indo em direção ao gabinete da Presidência da República, Machado relatou ter ido atrás e permaneceu no local "de maneira discreta”. Num dado momento, o grupo percebeu a presença dele e o cercou — instante em que o fotógrafo se identificou.
“Naquele momento, me esquivei e só pensava em sair dali. Eu estava nervoso e tenso por ser tão repreendido. Não conhecia nenhuma daquelas pessoas, e até hoje não saberia dizer nomes e quem seriam”, narrou o jornalista.
Após esse momento, as imagens mostram Machado cumprimentando um dos invasores. Na CPMI, ele afirmou que isso ocorreu depois de ele ter apagado fotos a pedido do homem. “Apesar de não endossar ou apoiar o que estava havendo, não tinha escolha a não ser o cumprimentar de volta. Estava preocupado de que, se me recusasse a retribuir, isso poderia levar a uma situação perigosa para mim.”
Machado foi convocado à CPMI por pedido de membros da oposição, que sustentam a participação e conivência do jornalista com as invasões. O deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), por exemplo, disse que o fotojornalista “não cumpriu os deveres como jornalista, participou do 12 de dezembro, do 8 de Janeiro, deu publicidade”, não foi preso nem é investigado. Adriano também participou da cobertura da tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em dezembro de 2022.
Ramagem ainda comparou a situação de Machado com a da ativista Klio Hirano, presa por participar do acampamento em frente ao quartel-general do Exército e e convocar pessoas ao local. “Ela tem carteira e registro de jornalista e foi presa e nem participou do 8 de Janeiro. Está presa porque divulgou imagens de 12 de dezembro”, disse o deputado oposicionista, que pediu a quebra de sigilo de Machado para investigar se ele pertencia ao grupo responsável por invadir o Planalto.
Do outro lado, o governista Rogério Correia (PT-MG) ressaltou que a referida jornalista participou dos atos do dia 12 de dezembro e foi interrogada, ocasião em que narrou que estava acampada nas proximidades do quartel havia 40 dias ou mais e que tinha ido à capital federal em um ônibus fretado por manifestantes com o objetivo de “evitar o comunismo no Brasil”. “Ela não está presa por ser jornalista, mas por ser manifestante do movimento golpista. […] O senhor Adriano estava lá como trabalhador, fotografando”, afirmou Correia.
O depoimento de Adriano Machado começou por volta das 9h50 e conta com 29 inscritos.