AVC hemorrágico em jovens, como o caso de Arthur Singer, ocorre em menos de 3 a cada 100 mil pessoas
Cantor de 13 anos morreu na semana passada; segundo a mãe, ele tinha malformação que só foi detectada após o episódio
Noinsta|Giovanna Borielo, do R7
A morte do ex-participante do Canta Comigo Teen 2, da Record TV,Arthur Singer, vítima de um AVC (acidente vascular cerebral) hemorrágico aos 13 anos, chamou atenção devido à idade do cantor.
De acordo com a mãe do garoto, Arthur nasceu com uma malformação, que só foi detectada pelos médicos por causa do falecimento.
Ao contrário do que algumas pessoas espalharam erroneamente nas redes sociais, não houve relação com a vacina contra a Covid-19.
O estudo "AVC não traumático em crianças", publicado no periódico Principles of Neurological Surgery, em 2018, afirma que os dados sobre AVC pediátrico são limitados.
No entanto, a incidência anual estimada de AVC foi relatada entre 1,2 e 13 por 100 mil crianças, sendo de 0,63 a 7,8 para o AVC isquêmico (em que há obstrução da passagem de sangue) e de 1,1 a 2,9 por 100 mil crianças para o AVC hemorrágico.
Dessa forma, os quadros de AVC em indivíduos até 18 anos seriam considerados extremamente raros – em especial os de AVC hemorrágico.
O pediatra Nelson Ejzenbaum, membro da Academia Americana de Pediatria, afirma que cerca de 25% dos AVCs em crianças são de causa desconhecida.
O neurologista José Fernandes Vilas explica que malformações congênitas ligadas à ocorrência de AVC em jovens (episódio definido pela Sociedade Brasileira de AVC e pela Sociedade Brasileira de Neurologia em pessoas abaixo dos 50 anos) estão comumente relacionadas a alterações na anatomia das artérias, que são raras, o que possibilita maiores índices de trombose e aneurismas cerebrais.
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O neurocirurgião Guilherme Rossoni completa que, nessas malformações venosas, geralmente, as paredes dos vasos sanguíneos são frágeis e, com os mínimos estímulos, podem se romper, ocasionando o AVC hemorrágico.
A família de Arthur Singer não confirmou qual o diagnóstico em relação à malformação.
Ainda é possível que existam outras causas para o AVC em crianças e adolescentes, geralmente ligadas a doenças genéticas menos frequentes, como Cadasil, Moyamoya e a doença de Fabri.
Ejzenbaum comenta que, entre crianças, algumas infecções também podem ocasionar o problema.
Entre elas, estão a infecção por varicela zoster (catapora), alguns casos de Covid-19, meningites e encefalites. A prematuridade também pode ser uma causa para o AVC em recém-nascidos.
"O AVC pode ocorrer em qualquer idade. Porém, a existência dessas malformações, sejam vasculares [sejam] malformações cardíacas que proporcionam arritimias, favorece que o problema aconteça mais cedo", explica Vilas.
Vilas ressalta que o aumento dos índices de sedentarismo, obesidade, diabetes e hipertensão entre jovens, assim como doenças pré-existentes, tal qual a anemia falciforme, alguns problemas cardíacos e o estresse, são alguns dos fatores que expandem a possibilidade da intercorrência.
Fatores ambientais, como o uso de drogas ilícitas, principalmente a cocaína, e esteróides anabolizantes também podem facilitar o acontecimento.
Rossoni afirma que os sintomas do AVC em jovens não diferem dos de idades mais avançadas.
Assim, as manifestações são: boca torta, perda de força em um dos lados do corpo, dificuldade em levantar os membros, dificuldade para caminhar, perda da coordenação motora, perda de equilíbrio, perda de visão, confusão mental e dormência.
"Alguns sintomas podem ser menos comuns, como dores de cabeça intensas e desmaios, acompanhados de náusea e vômitos, e estão associados ao AVC hemorrágico", esclarece o médico.
O pediatra comenta que outros sinais podem incluir apneia, dificuldades motoras, dificuldade de sucção e convulsões em recém-nascidos.
Já para crianças maiores, o acidente vascular cerebral pode se manifestar com afasia (dificuldade de se comunicar), dificuldade de movimentos, perda de memória, alterações comportamentais e epilepsia.
Os médicos afirmam que, mediante os sinais, deve-se encaminhar o paciente ao pronto-socorro com urgência, a fim de oferecer tratamento rápido e, assim, melhor prognóstico.
Os tratamentos podem variar, de acordo com a causa de base e tipo de AVC que estiver ocorrendo.
As medidas para prevenção do AVC são as mesmas para a de novos episódios: controlar a alimentação, evitar frituras e gorduras; controle de diabetes, colesterol e hipertensão; uso moderado de bebidas alcoólicas; evitar o uso de drogas lícitas e ilícitas; e ter um estilo de vida saudável, com a prática de exercícios.
Se detectada uma doença de base causadora, é importante que haja o controle e tratamento.
Saiba quais são os sinais do AVC, no qual o atendimento rápido é decisivo: