Aumento da gasolina pode puxar preço dos alimentos e inflação; entenda
Decisão da Petrobras tem objetivo de diminuir defasagem dos preços dos combustíveis nas bombas
Noinsta|Johnny Negreiros, do R7*
A decisão da Petrobras de aumentar o preço da gasolina e do diesel nas refinarias pode encarecer os alimentos e pressionar a inflação. É o que diz Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza, empresa especializada em comércio exterior.
"O aumento nos preços dos combustíveis pode ter um impacto significativo no IPCA, uma vez que os custos de transporte e logística tendem a se elevar. Isso pode se refletir nos preços de produtos diversos, incluindo alimentos, que muitas vezes dependem do transporte rodoviário para chegar aos mercados. Além disso, esse aumento também gera impacto direto nos preços no mercado externo, considerando principalmente a subida dos custos para produtores rurais", afirma ele.
O litro de gasolina, que tinha preço médio de R$ 2,52, sofreu uma elevação de 16,3%. Isso corresponde a um acréscimo de R$ 0,41, subindo para R$ 2,93 para as distribuidoras.
Por sua vez, o litro do diesel teve expansão de 25,8% na venda nas refinarias. Ele passou de R$ 3,02 para R$ 3,80, um acréscimo de R$ 0,78.
Um levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), realizado entre os dias 13 e 19 de agosto, já registrou o impacto desse reajuste nos postos do país.
O preço médio do litro da gasolina chegou a R$ 5,65 nas bombas nesta semana. O aumento foi de R$ 0,12 (2,1%) em relação ao período anterior, quando o combustível estava em R$ 5,53 o litro. Mas a maior alta foi a do diesel S-10, que passou de R$ 5,08 para R$ 5,50 — um aumento de R$ 0,42 (8,21%).
Com a alta, analistas do banco Itaú Unibanco revisaram a projeção da inflação deste ano de 4,9% para 5,1%. "O movimento veio acima da nossa expectativa de curto prazo, que embutia um reajuste menor na gasolina, próximo de 5%. Com isso, a alta possui impacto adicional de aproximadamente +25 p.b. nos meses de agosto e setembro", avalia boletim do banco, após anúncio do reajuste.
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, também tem palpite semelhante. Ele afirmou que esse novo dado tem impacto sobre a inflação e vai levar a autoridade monetária a revisar suas projeções para o comportamento dos preços.
O mandatário disse que o reajuste da gasolina tem impacto direto sobre o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Assim, o reajuste deve gerar, entre agosto e setembro, uma elevação de 0,4 ponto percentual no indicador, considerado a inflação oficial do país. O diesel, segundo Campos Neto, afeta o índice indiretamente.
Vale lembrar que o diesel é o combustível utilizado em caminhões. Segundo pesquisa da Custos Logísticos no Brasil, 75% dos produtos brasileiros são transportados por rodovia.
Entenda o reajuste
Os aumentos anunciados pela Petrobras têm o objetivo de diminuir a defasagem dos óleos nas bombas. Ou seja, os preços que eram cobrados pela estatal estavam muito abaixo do valor de mercado, atrelado ao exterior.
Segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), o preço da gasolina nos polos da empresa encontrava-se defasado em R$ 0,90 (-27%), e o do diesel, em R$ 1,18 (-28%).
Foi o primeiro aumento anunciado pela companhia desde a extinção da política de paridade internacional dos combustíveis, em maio. Depois dessa decisão, os valores só tiveram queda.
A variação acumulada no ano do preço de venda de gasolina A da Petrobras para as distribuidoras apresenta uma redução de R$ 0,15 por litro.
Prejuízos históricos
O Brasil passou por experiência recente de segurar, na marra, os valores cobrados nas bombas.
Em 2015, a companhia teve o maior rombo anual até então. O prejuízo foi de R$ 34,8 bilhões. Ainda, o saldo negativo havia sido de R$ 21,6 bilhões no ano anterior.
Para Rodrigo Saraiva, membro do conselho administrativo do Instituto Mises Brasil, os danos dessa situação atingem “todos os brasileiros”.
“Quando a Petrobras dá lucro, nós não somos beneficiados por ela. Quando ela dá prejuízo, nós todos pagamos a conta, como pagamos fortemente durante o governo Dilma”, disse ele ao R7.
Próximos números
Na próxima sexta-feira (25), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga a prévia da inflação do mês de agosto.
Porém, como os aumentos passaram a valer no final da coleta dos dados (15 de julho a 14 de agosto), o indicador ainda não deve mostrar o impacto da decisão da Petrobras nos preços da economia.
* Sob supervisão de Ana Vinhas