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Notícias|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília

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⠀⠀⠀⠀ Com plano bilionário e atração de data centers, país busca diversificar a economia e ganhar protagonismo regional Reprodução/ IA/ChatGPT

Embora relativamente nova, a IA (inteligência artificial) vem ganhando protagonismo na indústria e na economia. Com sua popularização, o Brasil passou a empenhar maiores investimentos para a área, o que pode abrir espaço para redução na dependência de commodities, fortalecendo o posicionamento do país como hub regional de infraestrutura digital.

No ano passado, por exemplo, o governo federal lançou o PBIA (Plano Brasileiro de Inteligência Artificial), que prevê um investimento de R$ 23 bilhões em quatro anos no setor. A intenção é promover o protagonismo global do Brasil em IA.


O plano tem por objetivo “transformar o país em referência mundial em inovação e eficiência no uso da inteligência artificial, especialmente no setor público”. Segundo o painel PBIA, até o momento foram utilizados R$ 6,47 bilhões dos recursos previstos.

Na intenção de expandir a área, o país trabalha para se tornar um dos principais centros de data centers para IA na América Latina. Para isso, o governo criou o Redata (Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center no Brasil), que busca impulsionar o crescimento nacional em áreas estratégicas da Indústria 4.0.


Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a construção de uma central de processamento de dados da plataforma de vídeos TikTok, no Ceará. No total, os investimentos chegam a R$ 200 bilhões nos próximos anos, além de gerar 4 mil postos de trabalho na primeira fase de obra e operação.

Para o economista André Mirsky, a instalação do primeiro data center do TikTok na América Latina e a criação do Redata representam um movimento estratégico, em que o Brasil deixa de ser apenas consumidor de tecnologia e passa a integrar a infraestrutura global da economia digital.


Curiosidades sobre IA Arte/ Luce Costa

“Isso abre espaço para diversificar a pauta econômica, hoje ainda muito concentrada em commodities. Quando o país atrai data centers, ele traz junto um ecossistema completo: empresas de nuvem, segurança cibernética, softwares, semicondutores, serviços especializados e formação de mão de obra em TI”, diz.

O analista entende que esse movimento amplia a complexidade produtiva e pode gerar uma nova frente de exportações, não mais baseada em produtos físicos, mas em serviços digitais, análise de dados, modelos de IA e soluções de tecnologia.

Segundo o especialista em inteligência artificial Emanuel Ferreira, é grande o potencial do Brasil em avançar com o tema, principalmente devido à combinação de energia limpa, mercado interno amplo e diversidade de dados.

Entretanto, é necessário maior investimento e atenção em áreas como infraestrutura tecnológica, governança tecnológica e regulamentação. “Para evoluir, é fundamental investir simultaneamente em formação, tecnologia, inovação local e políticas públicas que tornem a IA acessível e segura”, aponta Ferreira.

O país vive um momento em que empresas e governo começam a compreender que IA não é apenas tendência, mas base da nova economia. Se houver políticas de inovação e integração entre governo, empresas e universidades, o investimento em IA pode ajudar o Brasil a deixar de depender apenas da exportação de matérias-primas e começar a gerar valor com tecnologia, exportando soluções, modelos e serviços inteligentes, e não somente commodities.

Emanuel Ferreira

Placa de computador IA e data centers ganham espaço na estratégia econômica do Brasil Reprodução/ Freepik

Papel da IA na dinâmica econômica

A adoção da inteligência artificial tem o potencial de adicionar até 13 pontos percentuais no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil ao longo da próxima década, segundo uma pesquisa feita pela rede global PWC.

Especialistas ouvidos pelo R7, no entanto, afirmam que ainda é difícil prever os impactos da tecnologia na economia. Mas os efeitos dela poderão ser sentidos na produtividade, inflação, além do crescimento e mudanças nas forças de trabalho.

O consultor em gestão de risco e governança corporativa Rodrigo Provazzi entende que o impacto da IA na economia do Brasil é “profundo e ambivalente”, trazendo oportunidades de crescimento, mas também riscos que exigem políticas públicas e governança robusta.

“O investimento em IA pode ser um motor de crescimento econômico e inovação, mas os ganhos dependem de governança robusta e ética (LGPD, EBIA), infraestrutura digital soberana (data centers, conectividade), programas massivos de requalificação para evitar exclusão social e políticas de eficiência energética e sustentabilidade. Sem essas medidas, o Brasil corre o risco de ampliar desigualdades e perder competitividade global”, explica.

Apesar da maior parte das pesquisas sobre os efeitos econômicos da IA focarem nos impactos no trabalho, especialistas entendem que a tecnologia também pode tornar o capital físico mais produtivo.

Um exemplo seria permitir que os robôs compreendam e manipulem peças de trabalho que não encontraram antes. Esse tipo de mudança melhoraria a eficiência porque os processos não precisariam mais ser programados cada vez que uma peça de trabalho mudasse de forma ou alguma outra dimensão. Como resultado, o custo da fabricação de produtos diferentes poderia cair.

“A IA já mostra capacidade de elevar a produtividade ao automatizar tarefas repetitivas, melhorar análises de dados e otimizar operações. Setores como indústria, agronegócio, saúde e educação têm grande potencial de ganhos. No entanto, para que esse impacto seja amplo e consistente, é essencial investir em capacitação, incentivar o uso ético e garantir que empresas, especialmente as menores, tenham condições de adotar a tecnologia. Com esses pilares, a IA pode se tornar um importante motor de eficiência no país”, explica o especialista em inteligência artificial Emanuel Ferreira.

Além de questões que envolvem o mercado de trabalho, uma pesquisa do Escritório de Orçamento do Congresso dos Estados Unidos sugere que a IA também poderia afetar as receitas do governo, alternando a quantidade de renda nacional e distribuição.

“A tecnologia pode afetar os gastos alterando a participação em programas de teste de recursos e o uso de serviços de saúde subsidiados pelo governo federal, bem como induzindo mais financiamento para programas federais que poderiam apoiar o desenvolvimento e a governança contínuos da IA”, diz o texto.

Tecnologia como motor

⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀ Reprodução/ Freepik

A adoção da inteligência artificial pode atuar como catalisador para melhorar a eficiência operacional, inovação e competitividade do Brasil, apontam especialistas. Para Mirsky, o aumento da produtividade pode ser o impacto mais relevante para o país, com capacidade de destravar gargalos em áreas como:

• Indústria: melhora processos, reduz falhas, otimiza manutenção e aumenta eficiência energética.

• Campo: algoritmos elevam a precisão no plantio, reduzem desperdícios e ampliam a competitividade agrícola.

• Setor público: podem acelerar licenças, reduzir fraudes e melhorar a prestação de serviços.

• Serviços: ajudam empresas a entender melhor o consumidor e a oferecer produtos sob medida.

“O grande desafio é escalar isso em um país onde nem todas as empresas têm acesso à tecnologia ou à mão de obra capacitada. Por isso, políticas como o Redata, incentivos à digitalização e formação técnica são essenciais para que o ganho de produtividade se espalhe pela economia”, diz.

Assim como Mirsky, Ferreira explica que a produtividade pode contribuir para a otimização de tarefas repetitivas e operações, além de melhorar análise de dados. Entretanto, o economista ressalta a necessidade de investimentos na área.

“Setores como indústria, agronegócio, saúde e educação têm grande potencial de ganhos. No entanto, para que esse impacto seja amplo e consistente, é essencial investir em capacitação, incentivar o uso ético e garantir que empresas, especialmente as menores, tenham condições de adotar a tecnologia”, completa.

Congresso Nacional

No último dia 9, o governo federal enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei que cria o SIA (Sistema Nacional para Desenvolvimento, Regulação e Governança de Inteligência Artificial). O texto, que não trata de uma regulação, corrige o vício de iniciativa identificado no Marco Regulatório de Inteligência Artificial no Brasil.

Em 2024, o Senado aprovou o projeto que regulamenta a inteligência artificial no Brasil. O PL 2338, de 2023, de autoria do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), agora está na Câmara.

Segundo o governo, o modelo atualizado de governança mantém o entendimento firmado no Senado de que autoridades reguladoras setoriais têm competência normativa em suas áreas quanto a IA.

Inteligência artificial no mercado de ações

placa de computador ⠀⠀⠀⠀ Reprodução/ Freepik

Além do uso direto da tecnologia para otimização e melhora do cenário econômico, a IA vem sendo usada para a previsão do mercado de ações. Mesmo com algumas vantagens, entre elas o processamento massivo de dados, análise de sentimento e execução de operações em milissegundos, é importante adotar uma visão crítica sobre sua eficácia e impacto.

Atualmente, a tecnologia domina grande parte dos mercados financeiros, desempenhando um importante papel nas negociações automatizadas.

Entretanto, Rodrigo Provazzi, especialista em gestão de risco, alerta que o dispositivo deve ser visto como ferramenta de apoio, não como oráculo. “O futuro exige governança algorítmica, transparência e integração com análise humana para evitar decisões cegas baseadas em modelos opacos”, destaca.

O uso de IA para prever movimentos do mercado financeiro já é realidade em fundos quantitativos, algoritmos de trading e modelos de análise de risco. “No futuro, veremos mercados cada vez mais dependentes de IA — tanto para prever movimentos quanto para executar operações. Caberá aos reguladores garantir transparência, supervisão e mecanismos de estabilidade para evitar distorções", diz Mirsky.

Os benefícios são importantes:

• Melhora a qualidade da análise, com mais dados e velocidade de processamento.

• Reduz vieses humanos em decisões de investimento.

• Amplia a capacidade de detectar padrões, inclusive micro-tendências que escapam aos analistas tradicionais.

Mas também traz riscos:

• Efeito manada algorítmico: se muitos modelos tomarem decisões parecidas, podem amplificar volatilidade.

• Assimetria tecnológica: quem tem melhores modelos domina o fluxo, gerando concentração de poder no mercado.

• Opacidade: decisões automatizadas são difíceis de auditar, o que pode aumentar riscos sistêmicos.

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