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Notícias|Filipe Pereira*, do R7

Seja nas redes sociais ou nas provas e práticas da corrida de rua, um acessório chama atenção, principalmente dos solteiros: as famigeradas meias azuis. O uso da vestimenta, idealizado por um aplicativo de relacionamento em outubro de 2024, ganhou força entre os corredores e já conta com derivações, como adesivos para sinalizar quem está na ‘pista’ para encontrar um novo amor.

O relatório anual sobre tendências do esporte do aplicativo Strava — comunidade digital para pessoas ativas — mostrou que um em cada cinco jovens da geração Z já saíram em um encontro com alguém que conheceu em uma atividade esportiva em grupo.


Apesar de ser vista com olhar de julgamento por alguns, essa interação também pode ser benéfica, segundo explica a psicóloga esportiva Fernanda Bolzan. “Você está ali e encontra pessoas que estão em busca de relacionamentos, e que bom que dessa maneira você também está trabalhando o próprio corpo”, diz.

Antes mesmo de toda a popularização do esporte para essa finalidade, a vida de um casal se cruzou por meio da prática. Lídia Simões, de 43 anos, e Alexandre Gonçalves, 42, nem imaginavam que encontrariam o amor e construíram um relacionamento graças ao esporte — este ano, eles comemoram o Dia dos Namorados pela décima vez.


O encontro dos dois mundos parecia improvável, já que ele recorreu à corrida de rua após superar a obesidade, e ela tinha uma vida agitada com o ritmo frenético das corridas de trilhas — as feitas em trechos de terra. Foi em um convite recebido por Alexandre para fazer uma prova na modalidade de Lídia que eles se conheceram, em 2014. No entanto, naquele momento, os dois ainda não tinham se interessado romanticamente um pelo outro, o que aconteceu somente meses depois.

Em uma competição noturna, Lídia levou uma caixa de cerveja para a confraternização pós-prova, e foi ali que o futuro namorado viu a oportunidade de fazer algo diferente. “Eu corro mais rápido que ela, cheguei primeiro, né? E aí veio a ideia de esperar ela no pórtico [linha] de chegada com uma latinha de cerveja. Quando ela chegou, eu entreguei a cerveja para ela como prêmio, e aí acho que se apaixonou (risos). E isso vem acontecendo agora direto, toda chegada dela eu estou esperando lá com a cerveja na mão, senão ela briga”, confidencia Alexandre ao comentar a tradição divertida do casal.


Desde esse evento, os dois não se separaram mais. Junto aos gêmeos Rafael e Aline, de 15 anos, filhos de Lídia, e de Isabela, de 16, primogênito de Alexandre, formaram uma família.

E, assim como o amor une, o casal resolveu seguir os passos um do outro pelas ruas e trilhas da vida. Apesar da distância imposta pela rotina diária, Lídia e Alexandre fazem questão de acordar cedo aos finais de semana para correr lado a lado. E não é pouco: o trajeto percorrido pelos asfaltos do ABC Paulista chega na casa dos 40 km, uma das atividades preferidas da dupla para colocar a conversa em dia.

Para nós, é bem legal isso porque a gente acaba fazendo tudo junto, não tem preguiça.

Alexandre

Quando ele vai treinar e eu não posso ir, eu fico muito brava.

Lídia

Com o esporte fortalecendo a união, o casal já traça os planos para o futuro. “Quando as crianças estiverem maiores, já encaminhados e cada um casado, a gente tem um projeto de vida de ter um motorhome e poder viajar sem destino. É o nosso sonho de vida”, revela Alexandre.

Menos estresse, mais saúde e conexões

Acordar cedo, enfrentar o trânsito — ou o transporte público — para chegar ao trabalho, ficar ao menos oito horas longe de casa e fazer o mesmo trajeto de volta, sem contar as muitas outras atividades diárias. A sensação de tempo escasso faz com que você se sinta numa verdadeira maratona. Mas é exatamente na corrida — essa literal, no caso — que é possivel encontrar um meio de limpar a mente e de desacelerar o caos da rotina pesada.

Entre assessorias esportivas, provas, clubes e romances, o número de corridas de rua realizadas no Brasil em 2024 cresceu 29% em relação ao ano anterior. Os dados, divulgados pela Abraceo (Associação Brasileira de Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor) e pela agência de Relações Públicas Esporte & Negócio, mostraram que 2.827 provas oficiais ocorreram no último ano, enquanto 2.186 foram realizadas em 2023. Já segundo a Ticket Sports, houve um crescimento de mais de 300% nos registros de competições da categoria nos últimos cinco anos.

Antes mesmo da popularização do esporte, o aposentado José Bezerra, de 63 anos, recorreu à corrida de rua após sentir o estresse da rotina pesada na época em que trabalhava na área de Tecnologia da Informação. “Eu dei continuidade àquilo que começou lá na minha vida dentro da FAB [Força Aérea Brasileira], dos anos 1980 para frente. Ainda não era muito comum, mas, mais ou menos depois de 1985, começou o movimento de corrida de rua. E aí comecei a participar não só como prática pessoal, mas até mesmo de ginástica semanal, porque teve um grande incentivo nessa época”, conta José.

Os problemas de saúde familiares também acenderam o alerta para que o atual triatleta voltasse à prática. As doenças que acometeram o pai, falecido aos 64 anos por complicações do diabetes, e a mãe, diagnosticada com demência aos 80 anos, fizeram com que José questionasse seus hábitos e a importância da atividade física. A guinada no estilo de vida surtiu efeito e, hoje, na terceira idade, o corredor se orgulha do prontuário médico, sem uso de medicamentos e com disposição para dar e vender.

O esporte, que é um dos mais democráticos e antigos do mundo, traz uma série de benefícios para a saúde. Segundo o educador físico Luis Carlos Batista, a melhora da circulação sanguínea promovida pela troca de oxigênio faz com que os praticantes sintam os efeitos positivos no corpo quase que de imediato. A liberação de endorfina, conhecida como o hormônio da felicidade, também aumenta a energia e a disposição.

Em seus 30 anos na corrida, José passou por atividades em equipe e conheceu uma infinidade de pessoas. Esse tipo de socialização tem atraído novos adeptos para a prática, seja para criar conexões ou como um espaço para interação social. Segundo dados do relatório Perfil do Atleta Brasileiro, publicado pela Ticket Sports no ano passado, 53,8% dos indivíduos que participaram de eventos da plataforma em 2023 faziam parte de algum grupo esportivo.

Já o estudo realizado pelo aplicativo Strava revelou que 59% dos entrevistados gostariam de conhecer pessoas em um grupo esportivo — apenas 14% indicaram um bar. O relatório também mostrou que 92% dos indivíduos reduziram ou cogitam reduzir o consumo de álcool na tentativa de alcançar suas metas fitness.

Das telas para as pistas

Além da motivação pessoal, uma pessoa próxima a quem admiramos pode se tornar inspiração determinante para seguir firme na jornada por um estilo de vida saudável. Foi assim com Renata Loures, âncora da RECORD NEWS e futura blogueira do R7, que sustentou por muitos anos as ‘neuras’ contra a balança. A corrida entrou em sua vida primeiro como escape contra a ansiedade, em 2016 — prática que também a ajudaria a equilibrar as variações de peso que a incomodava.

No entanto, o grande estímulo para aumentar a prática no esporte veio do próprio irmão, Josué Loures. A jornalista viu na mudança de saúde e na autoconfiança dele o caminho de vida que gostaria de seguir.

Em abril de 2024, Renata e Josué tiveram sua primeira corrida juntos em um momento que marcou a vida da apresentadora. “Fomos eu, ele, o meu outro irmão mais novo, que não corre, a minha prima e meu primo, uma caravana familiar. A gente correu 10 km, e ele fez 42 km. Quando vi ele chegando, eu fico emocionada até hoje, eu não sei o que aconteceu. Para mim, foi até meio brega a minha reação, porque eu chorei muito”, relembra Renata.

Após o empurrão moral do irmão, ela focou nos treinos e, com a ajuda de uma assessoria esportiva, colocou o objetivo de correr uma meia maratona. “Eu acho que foi um estalo para mim assim, ‘olha o que a corrida fez com ele, isso deve ser muito gostoso’. E aí eu fiquei obstinada a fazer o mesmo, então acho que ele é meu ídolo ali, minha inspiração”, conta.

Com a constância e o foco nos treinos, os 21 km da meia maratona se tornaram realidade em dezembro, quatro meses antes do planejado. “Eu falo que, hoje, a minha meta é maratona, mas eu não tenho pressa para cumprir essa meta. Não tem desespero de ‘aí, quero ser maratonista’, não. Eu quero ir descobrindo o processo devagarzinho, sem desespero”, diz.

Ao fazer um mergulho nos estudos da prática, a âncora do Hora News encontrou dificuldades em encontrar informações que dialogassem com pessoas que iniciavam a trajetória no esporte, sem jargões ou conteúdos nichados. “Eu senti falta de uma coisa mais para leigo e aí eu pensei ‘quem sabe as minhas dúvidas também não tirariam dúvidas de outras pessoas, né?”, detalha Renata ao falar da criação de seu blog, que estreia em breve no R7.

Além de mitigar seus questionamentos, a jornalista deseja compartilhar suas experiências e os benefícios promovidos pelo esporte em sua vida. “Meus exames estão ótimos, melhores do que quando eu tinha 20 e poucos anos, então isso me chamou atenção. Como é que, mesmo estando mais velha, o fato de cuidar da minha saúde, do meu bem-estar, fez diferença em tudo assim, sabe? Você vê que não é questão da idade, né? É o que você faz realmente”, conclui Renata.

Prática que vai além do hype

Apesar das críticas pela popularização e pelo crescimento exponencial da corrida de rua como uma “nova moda”, o consenso entre os ouvidos nesta reportagem é único: ter mais adeptos ao exercício físico nunca é demais. Para eles, essa onda ajuda mais pessoas a iniciarem no esporte e, mesmo que não se mantenham na prática, a porta fica aberta para outras atividades.

“Que bom que o engajamento é para práticas físicas, de exercício físico, e não outros engajamentos que às vezes [a pessoa] pode se autodestruir ali, né? E que o engajamento seja nessa busca, de pesquisa de práticas e de exercícios. Muitas vezes a gente quer ir lá conhecer, e aí às vezes pode descobrir uma nova paixão”, comenta a psicóloga Fernanda Bolzan.

Já o professor Luis Carlos Batista acredita que, com a evolução e a popularização da prática, a corrida deixou de ser um processo de performance, com foco apenas em ganhar provas. Para ele, a atividade se tornou uma alternativa de interação social, principalmente pela divulgação do esporte pelas redes sociais e pelo ambiente contagiante criado nas competições.

“Você vai uma vez e aquelas tendas, roupas coloridas, o bate-papo e o som contagiam as pessoas. [...] Então, a corrida hoje em dia não é só um processo de performance. ‘Vou bater meu recorde pessoal’. Tem, mas não é a prioridade”, completa o educador ao ressaltar que, além de competir e socializar, muitos corredores buscam um novo amor na prática ou até mesmo uma parceria de negócios.

Fernanda e Batista aconselham que os novos praticantes busquem assessorias e profissionais habilitados para a execução correta da atividade, uma iniciativa essencial para evitar lesões. O professor destaca que, apesar de parecer simples, a prática não consiste somente em “começar a correr”, sendo recomendada a avaliação física com um médico e um plano de treino que mistura caminhadas e corridas, até que o corpo do praticante esteja adaptado ao exercício.

R7 Estúdio

  • Diretora de Conteúdo Digital e Transmídia: Beatriz Cioffi
  • Reportagem: Filipe Pereira
  • Edição: Júlia Ramos
  • Coordenação de Arte Multiplataforma: Sabrina Cessarovice
  • Arte: Amanda Megumi Arashiro e Gabriel Marques Rodrigues
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