Lanchas e iates que lembram o charme da Riviera Francesa repousam à beira do mar Mediterrâneo, a poucos metros de vias repletas de carros com volante à direita - a chamada mão inglesa. A mistura delicada de paisagens é uma pequena amostra das culturas que ajudam a formar Malta, uma república independente desde 1964, localizada em um arquipélago formado por 3 ilhas principais (Malta, Gozo e Comino).
Malta fica entre a Sicília, na Itália, e a Líbia, na África, e já foi disputada por diferentes povos ao longo dos séculos: franceses, ingleses, árabes e romanos.
Na época da dominação do Império Romano, por volta do ano 60 d.C., a ilha de Malta entrou para a história do Cristianismo. O pequeno ponto no mar Mediterrâneo se tornou o abrigo do apóstolo Paulo, logo após o naufrágio da embarcação em que ele seguia de Israel para Roma.
De perseguidor implacável dos cristãos de sua época, Paulo se tornou um dos precursores da fé cristã, dedicando sua vida a levar a mensagem de Jesus a diferentes povos e culturas. Uma jornada retratada com detalhes e muita emoção na série “Paulo, O Apóstolo”, da Seriella Productions.
Malta em Imagens: História, Paisagens e Sabores do Mediterrâneo
A capital de Malta ganha tons dourados ao pôr do sol, criando um cenário perfeito para fechar o dia.
Os registros bíblicos apontam que Paulo ficou apenas três meses na ilha. Pode até parecer pouco tempo, mas foi o suficiente para deixar marcas milenares na vida dos malteses. Monumentos, museus, pesquisas arqueológicas… tudo parece girar em torno de Paulo e seus ensinamentos.
“Merhba”
A parte mais alta do local apontado pela tradição como o primeiro ponto conhecido por Paulo na ilha, revela uma colina de vegetação rasteira, sobre um paredão de encostas abruptas que desce até o Mediterrâneo. O mar, brilhante e constante, arrebenta nas pedras com a força da maré, enquanto as gaivotas, barulhentas, completam a paisagem sonora. O cenário funciona como um forte natural diante da costa nordeste de Malta.
Os pontos elevados da ilha são considerados fascinantes pelos moradores, que afirmam ser possível avistar até o vulcão Etna, na Sicília, quando está em erupção. A 122 metros de altura, no topo do Mercury Tower — construção inspirada na arquitetura de Dubai e atualmente o edifício mais alto do país — é possível ter um panorama do lado moderno de Malta. Foi lá que a reportagem conversou com a mineira Lucimara Batista dos Reis, cônsul honorária do Brasil no arquipélago.
Ex-executiva de banco, Lucimara se mudou inicialmente para estudar inglês e decidiu permanecer em Malta em definitivo. Hoje, é considerada um elo fundamental entre os brasileiros e as autoridades locais. A ilha, com pouco mais de meio milhão de habitantes, abriga uma comunidade brasileira estimada entre 12 e 15 mil pessoas, número que varia conforme a época do ano. Segundo a cônsul, que vive em Malta desde 2017, apenas durante o verão o país chega a receber até 3 mil estudantes brasileiros. Fluente em inglês, Lucimara costuma brincar que ainda precisa melhorar o domínio da língua nativa:
“Estou numa luta para tentar aprender o maltês. Eu estudo, eu tenho aulas, é uma língua muito difícil, porque o maltês é o som do árabe, então existem palavras que a forma de se pronunciar, a gente nem sabe como fala. Mas é uma língua maravilhosa. Eu espero um dia responder a sua pergunta assim: eu falo maltês. Hoje, estou no processo.” Questionada se já consegue falar ao menos uma palavra em maltês, ela tem a resposta na ponta da língua:
A mais bonita que a gente tem em todas as cidades da ilha: a palavra Merħba, que é bem-vindo, vem do árabe Merhaba. Isso prova mais um pouco o quão hospitaleiros eles são
Lucimara conta que a mãe, do interior de Minas Gerais, nunca entendeu muito bem em que lugar do mundo a filha estava. Certo dia, Lucimara fez um pedido inesperado para a mãe. “Eu falei, pega a Bíblia mãe. Aí, eu pedi para ela abrir em Atos dos Apóstolos, Capítulo 28. Falei, mãe, lê, por gentileza”
¹ E, havendo escapado, então souberam que a ilha se chamava Malta.
Atos 28:1
Essa é a Malta que eu vivo. Então, a partir desse dia, Malta virou ‘o’ lugar. Então, se alguém tem dúvida onde é Malta, minha mãe faz questão de pegar a Bíblia. Esse aqui é o país que a minha filha mora.
Assado de coelho
A gastronomia maltesa reflete a diversidade cultural da ilha, combinando influências mediterrâneas com tradições locais. Entre os pratos típicos, destaca-se o assado de coelho, servido com a ftira, uma torta salgada quadrada semelhante a uma pizza, feita com um pão tradicional preparado da mesma forma desde o século XVI. A ftira foi incluída na lista de patrimônios culturais da Unesco, e o prato combina a carne do coelho, semelhante à de frango, com o pão recheado de queijo, oferecendo uma experiência gastronômica singular.

Outro destaque da culinária local é o pastizzi, considerado o lanche de rua mais típico de Malta. Trata-se de uma massa folhada crocante com recheios variados, sendo os mais populares queijo e pasta de ervilha. A família do empresário Marc Mifsud produz pastizzi na ilha há 50 anos, destacando-se pela mistura de queijo de cabra, queijo de vaca e ovos. Também são oferecidos recheios com anchovas, folhas de alho, arroz e cebola. A massa, feita com farinha, água, sal e manteiga, é aberta, recheada e assada, pronta em cerca de 15 minutos.

No centro histórico de Rabat, a reportagem conversou com Doreen Cutajar, produtora de doces e pães típicos. Ela explicou os cuidados e técnicas que tornam seus produtos reconhecidos entre moradores e turistas, reforçando a tradição gastronômica local.

“Bom, primeiramente, eles são feitos pelo meu marido. Ele trabalha todo dia. Ele faz e eu vendo. Então, é um trabalho 24 h. No momento em que ele está descansando, eu estou vendendo. Na maioria dos bolos, nós nem usamos uma máquina”. Doreen Cutajar apresentou o doce mais vendido em sua banca, o Honey Rings, semelhante a uma guirlanda, feito com pedaços de alfarroba e mel. A reportagem também experimentou o pão doce imqaret, recheado com tâmaras, chocolate, amêndoas e pistache, além de uma porção de cannoli de diversos sabores. A visita foi encerrada com a degustação do cannoli de pistache, recém-saído do forno, considerado irresistível.
Por baixo da ilha
As descobertas em Malta vão além dos espaços iluminados pelo Sol. Nos subterrâneos da ilha, escavações revelaram centenas de catacumbas da época do apóstolo Paulo, assim como de períodos ainda mais remotos. Os corredores úmidos e frios exigem cuidado ao caminhar, com trechos que lembram labirintos terminando em paredes cruas, resultado do trabalho arqueológico.

Em algumas passagens, é necessário se abaixar para evitar bater a cabeça, e a visão predominante é de túmulos abertos, ora individuais, ora organizados para abrigar famílias. Na era contemporânea, essas catacumbas serviram de abrigo para famílias durante a Segunda Guerra Mundial, com alguns pisos adaptados para pessoas de maior poder aquisitivo. Atualmente, quase 50 quartos subterrâneos permanecem preservados. A guia Theresa Hoban afirma que, de certa forma, é possível sentir a presença de Paulo nesses locais históricos.
Em momentos difíceis, a população de Malta sempre pensou em Paulo
Ao final de cada dia de gravação, a equipe retornava ao hotel, localizado em uma área mais tranquila da ilha, em frente a uma plantação de trigo e com um horizonte limpo e avermelhado, que proporcionava noites silenciosas. O cenário oferecia espaço para refletir sobre a viagem, evidenciando a hospitalidade e a gentileza características de Malta, marcantes desde os tempos em que a ilha recebeu a passagem da maior jornada de fé do Cristianismo.

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