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Estúdio|Tony Chastinet, do Núcleo Investigativo da RECORD

A disputa de território entre criminosos de duas facções rivais levou medo e pânico aos moradores do distrito de Uiraponga, vilarejo a 30 quilômetros de Morada Nova, no sertão do Ceará. Desde o final de abril, a disputa já deixou oito mortos na região. Relatos de ameaças, invasões de casas e disparos para o alto apavoraram os moradores que deixaram a lugar às pressas com medo de morrer.

O cenário é de um filme de ficção. Ruas vazias, casas, escolas e comércios fechados. Silêncio. A sensação é de que todos os cerca de 2 mil moradores deixaram tudo para trás e saíram às pressas.


Um clima tenso paira no ar. O silêncio só é quebrado com a circulação de viaturas da Polícia que rodam lentamente pelo distrito. Os policiais foram deslocados para reforçar o patrulhamento, mas a população ainda não se sentiu segura para retornar.

Os poucos que ficaram são idosos, pessoas que não tem para onde ir e pessoas que estão tentando se desfazer do pouco que possuem antes de mudar.


Muito triste ver a família saindo, caminhões de mudança chegando, famílias chorando. É desolador. Desumano.

morador que deixou o vilarejo e não se identificou por medo de represálias

Mas o que aconteceu para Uiraponga virar uma cidade fantasma?


De acordo com a Polícia, os criminosos que agora estão em guerra, eram integrantes de uma quadrilha de ladrões de banco que agia na modalidade do Novo Cangaço. O líder se matou durante um cerco policial em 2019.

Os remanescentes do bando criaram uma facção chamada TCP-Cangaço que passou a atuar no tráfico de drogas e extorsões contra comerciantes e agricultores.

O grupo se aliou aos Guardiões do Estado (GDE), uma das maiores facções do Ceará, para fazer frente às investidas de criminosos do Comando Vermelho que buscavam se expandir na região do Vale do Jaguaribe.

Segundo a Polícia, a liderança ficou dividida entre Gilberto de Oliveira Cazuza, conhecido como Mingau, e José Witals da Silva Nazário, conhecido como Playboy, que já haviam atuado juntos na quadrilha do Novo Cangaço.

Em 2021, José Witals foi preso. No ano passado, ele deixou a cadeia, mas o cenário na região havia mudado.

De acordo com a Polícia, Gilberto rompeu a aliança com o GDE e assumiu o controle do território. Só que José Witals continuou ligado à facção e entrou em guerra com o antigo aliado.

Essa teria sido a origem da escalada da violência que assombrou a população de Uiraponga e já resultou em oito homicídios.

No caso mais recente, o braço-direito de Mingau foi arrancado de casa, levado até a única praça do distrito e executado com diversos tiros em frente aos moradores.

Depois disso, quatro homens foram até o vilarejo e aterrorizaram a população com invasões de casas em busca de desafetos e disparos para o alto.

“Você vê os seus vizinhos se mudando e pensa: não vou ficar aqui esperando alguma coisa acontecer”, desabafa um morador.

Gilberto e José Witals entraram na mira da Polícia. Com a repercussão do deslocamento forçado, ambos desapareceram da região. Mingau está foragido e atualmente é um dos criminosos mais procurados do Ceará.

José Witals foi preso em São Paulo no dia 28 de julho. Ele foi capturado em operação conjunta entre as Polícias Civis do Ceará e de São Paulo. No momento da prisão, ele jogou dois celulares no telhado, que foram recuperados e apreendidos.

O retorno dos moradores é incerto. “Se as coisas acalmarem a gente volta. Mas acredito que vai demorar”, lamenta um morador.

Não localizamos as defesas de Gilberto Mingau e José Witals.

  • Diretora de Conteúdo Digital e Transmídia: Bia Cioffi
  • Coordenadora de Produções Originais: Renata Garofano
  • Coordenadora de Arte Multiplataforma: Sabrina Cessarovice
  • Arte: Gabriel Marques
  • Repórter: Ari Peixoto
  • Repórter Investigativo: Tony Chastinet
  • Chefe de Produção : Giselle Barbieri
  • Editora Chefe: Angelica Mansani
  • Editor Chefe: Thiago Samora
  • Editor Chefe: Osmar Jr
  • Editor Chefe: Bruno Chiarioni
  • Diretor Editorial e Projetos Especiais: Thiago Contreira
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