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Os três últimos governadores do Estado do Rio dividiram o mesmo endereço em 2017: a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte da capital fluminense. Anthony Garotinho e a mulher dele, Rosinha Garotinho, foram presos, em novembro, por envolvimento em casos de corrupção. Já Sérgio Cabral completou um ano na cadeia após quatro condenações em processos ligados à Lava Jato
Montagem sobre fotos de Fabio Motta/Agência Estado e Rodrigo Menezes/Agência O Dia
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Anthony Garotinho foi preso por duas vezes este ano. Em setembro, o ex-governador foi detido quando apresentava o programa dele em uma rádio. No entendimento da Justiça, a prisão se fez necessária porque Garotinho estaria intimidando testemunhas e atrapalhando as investigações no âmbito da Operação Chequinho. No entanto, ele foi solto por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) dias depois.
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO - 08.12.2017
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Em novembro, o casal Garotinho acabou atrás das grades por suspeita de arrecadar dinheiro ilícito para o financiamento de campanhas do grupo político deles em Campos dos Goytacazes (RJ). Os dois foram levados para a Cadeia de Benfica, onde também está preso o ex-governador Sérgio Cabral
Reprodução/Facebook
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Mas Garotinho foi transferido para o Complexo de Gericinó, em Bangu, na zona oeste, após dizer que foi agredido por um homem que invadiu a cela dele durante a madrugada. Segundo o depoimento, o agressor efetuou golpes com um bastão de madeira e pisou no pé dele
Reprodução/Record TV
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Após a agressão, o ex-governador chegou a ser atendido pelo ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes, também preso na unidade. A polícia ainda investiga o caso. Imagens de câmera de segurança já foram analisadas e depoimentos colhidos. Uma perícia também foi realizada na cela em que estava Garotinho
Reprodução / Record TV Rio
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A Justiça negou o habeas corpus para Garotinho, mas mandou soltar a mulher dele com tornozeleira eletrônica. O TRE (Tribunal Eleitoral do Rio de Janeiro) determinou ainda que Rosinha se recolha à noite e não saia do município de Campos
Rodrigo Menezes/Agência O Dia - 30.11.2017
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O advogado criminalista e presidente do Abracrim (Associação Brasileira de Advogados Criminalistas), James Walker Júnior, aponta que a prisão dos três chefes do Executivo Fluminense revela uma permissividade dos órgãos estaduais de fiscalização com casos de corrupção.
— A prisão do Rio de Janeiro dos três últimos governadores é tão sintomática quanto reveladora da permissividade dos órgãos de persecução penal do Estado. Vale destacar de todas as iniciativas que levaram esses políticos para a cadeia vieram do MPF. Resta a indagação sobre a falta de atividade e fiscalização do Ministério Público do Estado em relação a todas essas ilicitudes que estavam ocorrendo sem tomar qualquer iniciativaMontagem em fotos de Wilton Junior/Estadão Conteúdo e Fabio Motta/Estadão Conteúdo
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Em 2017, Cabral foi condenado no âmbito das operações Eficiência, Calicute e Mascate e em outra ação ligada à Lava Jato, em Curitiba, por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Somadas, as penas impostas a Cabral já passam de 87 anos de reclusão
Fernando Frazão / Agência Brasil
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Na avaliação do advogado criminalista James Walker Júnior a situação jurídica do ex-governador pode se complicar ainda mais, caso surjam novas denúncias em depoimentos de pessoas muito próximas ligadas a Cabral.
— Hoje a situação é preocupante. Sobretudo, para além de ter mais de 70 anos de penas já lançadas, ainda restam processos em curso. Isso sem mencionar o que está por vir em função de delações que já se encontram em andamento junto ao MPF. Por outro lado, o agravamento da sua situação jurídica, impõe a ele, na mesma medida, um absoluto enfraquecimento e abandono político, sendo certo que seus aliados do PMDB já lhe viraram costas. Prova disso, é que ele está reiteradamente delatado por pessoas que sempre lhe foram próximasFÁBIO MOTTA / ESTADÃO CONTEÚDO - 10.07.2017
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No último dia 7, Carlos Miranda, amigo de infância e operador do suposto esquema de corrupção chefiado por Cabral, foi ouvido pela primeira vez pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, após ter fechado acordo de delação. Miranda também está preso na Cadeia Pública de Benfica
Record TV
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Em depoimento, Carlos Miranda confirmou que as empresas pagavam propina de 5 % por contrato em negócios com o Estado. O delator também deu a mesma versão do empreiteiro Fernando Cavendish, para compra de uma joia de R$ 800 mil para a ex-primeira dama
Reprodução/Record TV
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O empreiteiro da Delta Construções, que está em prisão domiciliar, afirmou ter presenteado Adriana Ancelmo com um anel de brilhantes, em 2009, com a intenção de garantir que a empresa realizasse a reforma do Maracanã. O ex-governador, no entanto, negou a versão e disse que devolveu a joia para Cavendish em 2012. Cabral ainda usou as palavras "mentiroso" e "puxa-saco" para se referir ao velho amigo
JOSE LUCENA / FUTURA PRESS ESTADÃO CONTEÚDO - 23.11.2017
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Outros aliados do ex-governador também estão atrás das grades. A operação Fatura Exposta, que apurou fraudes de contratos na Secretaria de Saúde, entre os anos de 2007 e 2014, prendeu ex-secretário Sérgio Côrtes por suspeita de participação no esquema. Além de Côrtes, os ex-secretários Hudson Braga e Wilson Carlos estão presos e são acusados de integrar a quadrilha chefiada por Cabral
Agência Brasil / Fernando Frazão
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Políticos do PMDB, mesmo partido do ex-governador, também são investigador por corrupção na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). O ex-presidente da Casa, Jorge Picciani, e os deputados Edson Albertassi e Paulo Melo terminaram presos, durante a operação Cadeia Velha, em novembro, mesmo após manobras políticas
WILTON JUNIOR / ESTADÃO CONTEÚDO - 21.11.2017
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A mulher de Sérgio Cabral também voltou para cadeia em novembro. No entanto, menos de um mês depois, Adriana Ancelmo retornou para prisão domiciliar em um apartamento de luxo no Leblon por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes. A ex-primeira dama já foi condenada em dois processos (Calicute e Eficiência)
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO - 23.11.2017
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O ex-governador Sérgio Cabral ainda é alvo de investigações do MPRJ (Ministério Público do Estado do Rio) por receber supostas regalias dentro da cadeia. Em uma vistoria, realizada em novembro, promotores encontraram alimentos, como bolinhos de bacalhau, queijos e camarões, na cela de Cabral
Divulgação MP-RJ - 24.11.2017
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A transferência do ex-governador para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, também gerou questionamentos, já que a prisão foi reformada para receber presos da Lava Jato com curso superior. No entanto, o secretário de Administração Penitenciária, coronel Erir Ribeiro, comandante da PM na gestão Cabral, garantiu que não haveria privilégios para o político
JOSE LUCENA/ FUTURA PRESS ESTADÃO CONTEÚDO - 29.11.2017
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Outra polêmica foi a instalação de uma sala de cinema na cadeia onde está Cabral. A Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) divulgou que os equipamentos haviam sido doados por igrejas, que negaram a informação. Com a repercussão negativa, a TV, o home theater e os filmes foram levados para um orfanato. Segundo o MPRJ, os investigadores descobriram que o termo de doação apresentado é falso
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Cabral também bateu boca com o juiz Marcelo Bretas em uma das sessões realizadas em outubro. Após a discussão, Bretas aceitou o pedido do MPF e decidiu mandar o ex-governador para uma prisão federal por entender que ele tinha acesso a informações privilegiadas. No entanto, a transferência foi revogada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes. Semanas depois, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar um suposto dossiê contra Bretas. O ex-governador negou participação na produção do documento quando voltou a ficar frente a frente com o juiz federal
Alessandro Buzas/Futura Press/Folhapress
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Para Walker Júnior, as investigações recentes sobre supostos privilégios podem indicar que o ex-governador ainda exerce algum poder mesmo na prisão.
— Hoje o poder do ex-governador Sérgio Cabral se resume às esferas mais baixas da administração pública. Isso se verifica com as regalias que lhe foram deferidas muito provavelmente por pessoas que exercem serviços públicos em instâncias inferiores. Isso porque, em graus mais elevados do exercício do poder, os agentes públicos estão preferindo guardar distância de Cabral para não se contaminarem com o passivo jurídico que o ex-governador tem enfrentadoJosé Lucena/Estadão Conteúdo - 5.12.2017