Até por misericórdia

02
MAR

Políticos profissionais jamais têm medo do escuro, eles têm medo da claridade

"A maior ilusão em que pode incorrer um homem público é pensar que o poder que o povo lhe delegou é seu". É assim, de forma literal, a frase dita pelo poeta Ferreira Gullar. A frase desnuda, de forma cruel, impiedosa, o que é o político brasileiro, quase sem exceção. Nunca antes na história desse país viu-se tantos dessa gente infame apoderar-se de todos os cargos chave e, como numa transfusão de sangue malsucedida (para nós), trocar o bom pelo mau.

É uma raça que foi ganhando musculatura espalhando-se lentamente pelo organismo da nação - como um câncer que vai te matando aos poucos. No nosso caso matando esperanças, matando futuros, matando chefes de família, homens e mulheres, com desemprego, roubando merendas da boca de crianças. Para essa gente só há um limite, ou melhor, um desafio: qual o cofre público que está cheio para esvaziá-lo.

Vivemos, nas últimas décadas, a destruição da moral e da ética provocada pelas mesmas pessoas que se arrastam entre discursos, promessas, manifestações, falsas intelectualidades, até alcançar o poder. São políticos profissionais que, já foi dito, jamais têm medo do escuro - eles têm medo da claridade. Na política - e também já foi dito e percebido por todos nós - é difícil distinguir os homens capazes dos homens capazes de tudo.

E não é esse ou aquele partido. Na verdade, se fosse bom não era partido, seria inteiro. São quase todos, ou quase todos estão metidos em alguma delinquência, alguma traquinagem. Como diz um ditado italiano: "Dinheiro público é como água benta: todo mundo põe a mão".

Temos, nesse momento, dois ex-presidentes da República de longa história e de importância na história do Brasil sendo investigados pela Polícia Federal, pelo Ministério Público. Lula e Fernando Henrique Cardoso um dia falaram a mesma língua política, depois falaram línguas políticas diferentes e agora voltaram a falar uma mesma língua: a das explicações sobre acusações que ainda precisam ser provadas e comprovadas. Mas um Presidente da República tem que ser como a mulher de César - não adianta ser honesta, tem que provar que é honesta. Ou não?

Um dia o ex-presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, disse uma frase na Casa Branca que ficou registrada para a história: "Eu creio que política é a segunda profissão mais velha do mundo. Eu acabo de perceber que tem muita semelhança com a primeira". Engraçado, ou triste, é que nós aqui no Brasil começamos a ter essa mesma percepção.

Mas só não há uma luz no fim do túnel porque, se houvesse, algum deles ia superfaturar a licitação do túnel ou sair construindo túnel do nada para lugar algum. Melhor mudar a frase. Há uma esperança: investigações conduzidas pelo Ministério Público, pela Polícia Federal, estão levando à Justiça pessoas que se acreditavam acima do bem e do mal. Empresários, políticos, começam a sentir a solidão da cadeia. Outros vivem o medo de para lá ser mandados. É um início, claro, que nos traz a tal luz no fim do túnel - melhor não dar ideia a eles, Marcelo.

O que não podemos é nos habituar com o escândalo da roubalheira com frases tipo "sempre foi assim". Para fazer uma nova política é preciso fazer um novo político. Quem sabe fazer o atual político trabalhar não o reelegendo. Não existem democracia, liberdade, quando um governo se serve do povo em vez de servi-lo. Um filósofo e historiador norte-americano escreveu uma vez: "A máquina política triunfa porque é uma minoria unida atuando contra uma maioria dividida".

Talvez tenha chegado a nossa hora de aproveitar que o time deles está desunido e um acusando o outro para ver qual roubou mais. Hora de apoiar as ações da Justiça e ver se escapamos, pelo voto, dessa lei da selva. É hora de, em vez de dar as chaves do País aos mesmos de todo sempre, trocar as fechaduras. E perceber que promessa na política é apenas mais um artigo do Código Penal.

 

Por Marcelo Rezende

 

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Conheça um pouco sobre o apresentador

Marcelo Luiz Rezende Fernandes nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de novembro de 1951, e inicou sua carreira como repórter nos anos 70. Com mais de 40 anos de experiência, o jornalista se destacou em matérias envolvendo tráfico de armas, corrupção no futebol, pirataria, entre outros. Atualmente, está no comando do Cidade Alerta, na Rede Record.


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